A retomada da luta sindical nos EUA

James Woods, via U.S. Uncut, traduzido e comentado por Gabriel Landi Fazzio.

O Partido Democrata, na sexta-feira (28/08/15) adotou o apelo pelo aumento do salário mínimo para $15/hora, estabelecendo a reivindicação como parte de sua plataforma partidária, no aproximar da temporada eleitoral de 2016. O movimento adiante polariza as alas progressistas do partido movendo-as à esquerda tanto do Partido Republicado quanto de democratas centristas ligados às corporações, como Hillary Clinton.

Em resposta ao voto do Partido Democrata, Terrence Wise, de Kansas City, Missouri, da categoria dos trabalhadores do McDonald’s e do Burger King e membro do Comitê Organizativo Nacional da Luta por $15, emitiu a seguinte declaração:fight for 15

O movimento do Partido Democrata exibe o crescente entendimento de que $15 por hora é o que os trabalhadores estadunidenses de todos os lugares precisam para sobreviver e sustentar suas famílias. Quando os trabalhadores do fast-food entraram em greve pela primeira vez, três anos atrás em Nova York, a maior parte das pessoas não acreditava que pudessem vencer. Mas o movimentos pegou em todos os cantos do país e grandes aumentos salariais agora estão se espalhando de costa a costa. Se juntando, protestando e entrando em greve, estamos mudando a política do país. E nós continuaremos lutando até que todo o trabalhador sub-remunerado do país conquiste $15 e um sindicato.

Em resposta à aprovação esmagadora dos delegados reunidos em apoio à classe trabalhadora, a presidenta do Comitê Nacional Democrata Debbie Wasserman Schultz se apressou em apontar que a resolução não-vinculativa do partido ainda assim deve exercer influência sobre as bases do partido que ainda não reconhecem o candidato Bernie Sanders, e sua rapidamente disseminada mensagem populista, como origem do ímpeto para a adoção da nova bandeira partidária.

Nossas resoluções são realmente uma inestimável ferramenta para nossa instituição, então honramos aqueles que têm dedicado suas vidas ao melhoramento de nosso partido e nossa nação, para enfrentar as injustiças na sociedade e para reafirmar nosso compromisso com os valores caros ao nosso partido. Cada uma dessas resoluções carrega grande importância e nós todos podemos usá-las como inspiração conforme nos movemos adiante.

A adoção da reivindicação pelo salário mínimo de $15/hora foi agrupada com uma série de outras propostas incluindo a obrigatoriedade de licença médica remunerada, bem como incentivos tributárias e aumento dos gastos governamentais para assistência de qualidade à infância para pais trabalhadores, bandeiras que deverão delinear melhor os membros progressistas do partido frente a suas bases que realizam a maior parte de seus trabalhos na região metropolitana de Washington.

           

 

Comentário do tradutor:

São animadoras as notícias da crescente elevação do nível de consciência das massas estadunidenses, após décadas de aparente apatia. A retomada da luta de classes nos EUA confirmam os prognósticos daqueles que, críticos ao Ocuppy Wall Street, ainda sim souberam ler naquele movimento o início de uma guinada da política estadunidense para além da política de cúpula, tendente à crescente participação e luta de massas.

Desde então, vislumbramos o aumento do número de greves, principalmente das categorias com as piores remunerações, e o nascimento de um amplo movimento de combate ao racismo nos EUA. O atual cenário eleitoral, onde despontam entre os favoritos o pré-candidato socialista Bernie Sanders e o reacionário Donald Trump é mais um indício da crescente polarização ideológica na base da sociedade anglo-americana.

Em verdade, porém, o leve giro à esquerda dos Democratas não é o mais surpreendente: o partido já foi, em outros momentos, capaz de acomodar com relativa habilidade política as demandas sindicais, anti-racistas e populares em geral. O que mais nos anima na notícia acima é a lucidez da sabedoria proferida pelo companheiro Terrence Wise, capaz de comemorar a decisão Democrata como uma vitória da intransigência e persistência da luta operária, e, indo para além das comemorações, afirmar que tal vitória apenas confirma a importância da organização e da luta (mediante passeatas e greves) da classe trabalhadora.

O futuro do povo estadunidense apenas lhes pertence. No entanto, não deixa de ser animador assistir a tal reascenso, cujos desafios e dilemas, se superados, carregam potencialidades incalculáveis para toda a luta de classes mundial.

15 abril Largest Protest by Low Wage Workers in US History the guardianFoto do protesto de 15 de abri de 2015: o maior protesto de trabalhadores sub-remunerados da história do EUA, segundo The Guardian.

Compartilhe:

Posts recentes

Mais lidos

2 comentários em “A retomada da luta sindical nos EUA”

Deixe um comentário