Ação política e a classe trabalhadora

Por Karl Marx, via Marxists.org, traduzido por Matheus Silva

Em setembro de 1871, em Londres, ocorreu a conferência da I Internacional na qual Marx pronunciou os seguintes discursos sobre a ação política e o proletariado – preservados graças às notas tomadas em francês por um participante do encontro. Nestes breves discursos, Marx opõe-se frontalmente ao abstencionismo político.


20 de Setembro

O cidadão Lorenzo nos lembra de nos atermos às regras, e o cidadão Bastelica seguiu seu exemplo. Tanto no estatuto original como no discurso de posse, li que o Conselho Geral é obrigado a preparar uma agenda para os congressos para discussão. O programa preparado pelo Conselho Geral trata da organização da Associação, e a proposta de Vaillant se refere a este ponto. Consequentemente, a objeção de Lorenzo e Bastelica é infundada. [1]

Em praticamente todos os países, certos membros da Internacional, invocando a concepção mutilada dos Estatutos adotados no Congresso de Genebra, fizeram propaganda a favor da abstenção da política; os governos foram bastante cuidadosos para não impedir essa restrição. Na Alemanha, Schweitzer e alguns outros, trabalhando para Bismarck, tentaram favorecer a política do governo. Na França, essa criminosa abstenção permitiu que Favre, Picard e outros tomassem o poder em 4 de setembro; essa abstenção possibilitou, em 18 de março, a criação de um comitê ditatorial composto em sua maioria por bonapartistas e criadores de intrigas, que, logo nos primeiros dias, botaram a perder a Revolução por inatividade, dias esses que eles deviam ter dedicado ao fortalecimento da Revolução.

Nos Estados Unidos, recentemente, um congresso de trabalhadores resolveu ocupar-se com questões políticas e substituir os políticos profissionais por trabalhadores como eles mesmos, que estavam autorizados a defender os interesses de sua classe.

Na Inglaterra, não é tão fácil para um trabalhador chegar ao Parlamento. Como os membros do Parlamento não recebem nenhuma indenização e o trabalhador tem de trabalhar para se sustentar, o Parlamento torna-se inatingível para ele, e a burguesia sabe muito bem que a sua recusa em permitir salários aos membros do Parlamento, é um meio de impedir a classe trabalhadora de ser representada nele.

Nunca se deve acreditar que não é importante a presença de trabalhadores no Parlamento. Se alguém sufoca suas vozes, como no caso de De Potter e Castian, ou se alguém as ejeta, como no caso de Manuel, as represálias e opressões exercem um efeito profundo sobre o povo. Se, por outro lado, eles podem falar da tribuna parlamentar, assim como Bebel e Liebknecht, o mundo inteiro os ouve. Tanto num caso como no outro, grande publicidade é fornecida aos nossos princípios. Para dar um exemplo: quando, durante a guerra franco-prussiana, travada na França, Bebel e Liebknecht se comprometeram a apontar a responsabilidade da classe trabalhadora diante desses acontecimentos, toda a Alemanha ficou abalada; e mesmo em Munique, a cidade onde as revoluções ocorrem apenas “sobre o preço da beterraba”, grandes manifestações ocorreram exigindo o fim da guerra.

Os governos são hostis a nós, e é preciso responder a eles com todos os meios à disposição. Levar os trabalhadores ao Parlamento é sinônimo de uma vitória sobre os governos, mas é preciso escolher os homens certos, não Tolains.

Marx apóia a proposta do cidadão Vaillant, assim como a emenda de Frankel de afirmá-la como premissa, e assim, fortalecendo-a, coisa que a Associação sempre exigiu, e não apenas a partir de hoje, que os trabalhadores se ocupem com a política.

21 de Setembro

Marx disse que ele já havia discursado ontem em favor da proposta de Vaillant, logo, não iria se opor a ele hoje. Ele respondeu a Bastelica que no inicio da Conferência já estava decidido que a mesma se ocuparia exclusivamente da questão da organização e não da questão dos princípios. Quanto ao Regulamento, ele chama atenção para o fato de que os Estatutos e o Discurso Inaugural, que ele releu, devem ser lidos como um todo.

Ele explicou a história da abstenção da política e disse que não devemos nos deixar irritar com essa questão. Os homens que propagaram essa doutrina eram utópicos bem-intencionados, mas aqueles que querem tomar tal estrada hoje não o são. Eles rejeitam a politica até depois de uma luta violenta, e assim, levam o povo a uma oposição formal, burguesa, que deve ser combatida ao mesmo tempo em que lutamos contra os governos. Devemos desmascarar Gambetta, para que as pessoas não sejam mais enganadas. Marx compartilha a opinião de Vaillant. Devemos contestar fortemente todos os governos que estão submetendo a Internacional a perseguições.

A reação está presente em todo continente; é geral e permanente, até mesmo nos Estados Unidos e na Inglaterra, de uma forma ou de outra.

Nós devemos anunciar aos governos: Nós sabemos que vocês detêm o poder armado que é dirigido contra os proletários; nos movimentaremos contra vocês de maneira pacífica quando for possível, e armados quando for necessário.

Marx é da opinião que a proposta de Vaillant necessita de algumas mudanças, e portanto, ele apoia o movimento de Outine. [2]


Notas

[1] Nesse dia, o delegado francês Edouard Vaillant propôs uma resolução enfatizando a inseparabilidade da política e da economia, que são esferas intrinsecamente conectadas, então ele pediu aos trabalhadores que unissem suas atividades políticas. Os proudhonistas se opuseram.

[2] Outine propôs à resolução de Vaillant as emendas de Serraillier e Frankel, passadas ao Conselho Geral para um estudo mais aprofundado, sob o nome de “A eficácia política da classe trabalhadora”. A proposta de Outine foi aprovada.

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