Oito teses sobre o Universal

Por Alain Badiou, traduzido por Douglas Rodrigues Barros

Por “pensamento”, quero dizer o sujeito na medida em que é constituído através de um processo que é relativamente transversal com a totalidade da avaliação das formas de conhecimento. Ou, como sugeriu Lacan, é sujeito na medida em que constitui uma lacuna no conhecimento.

  1. O pensamento é a própria mediação do universal[1]

Observações:

Este pensamento é a própria mediação do universal significando que nada existe como universal se se toma a forma do objeto ou da legalidade do objeto. O universal é essencialmente “não-objetivo”. E pode ser experenciado somente através da produção (ou reprodução) de uma trajetória de pensamento, e esta trajetória constitui (ou reconstitui) uma disposição subjetiva.

Há sob esse aspecto dois exemplos típicos: a universalidade de uma proposição matemática pode somente ser experenciada pela invenção ou pela efetividade de reprodução de sua prova, a universalidade situada de uma declaração politica só pode ser experenciada  através das práticas militantes que a efetuam.

Este pensamento, como sujeito-pensamento, é constituído através de um processo, significando que o universal não é um resultado de um caminho transcendentalmente constitutivo, o que pressuporia um sujeito constituinte. Pelo contrário, a abertura da possibilidade de um universal é a precondição para que haja um sujeito-pensamento no nível local. O sujeito é invariavelmente convocado a refletir no especifico ponto deste procedimento através do qual o universal é constituído. O universal é, ao mesmo tempo, o que determina seus próprios pontos, assim como, o pensamento-sujeito é a rememoração virtual desses pontos. Por isso, o nervo do trabalho dialético no universal esta no local, como sujeito, e no global, como procedimento infinito.

Consequentemente, a universalidade da proposição – a série dos números primos vai ao infinito – reside tanto na maneira como nos convoca a repetir (ou redescobrir) no pensamento uma única prova de sua verdade, como ainda no procedimento global que, desde os gregos até os dias de hoje, mobiliza a teoria dos números juntamente com seu entendimento axiomático.  De outro modo, a universalidade de uma declaração política – os trabalhadores imigrantes ilegais em um país devem ter seus direitos reconhecidos nesse país – reside em toda sorte de efetivações militantes através das quais a subjetividade política é ativamente constituída, mas também no processo de uma política global, em termos nos quais são prescrições concernentes ao Estado e suas decisões, regras e leis.

Que o processo do universal ou da verdade – ambos significam a mesma coisa – é transversalmente relativo para toda instância de avaliação do conhecimento significa que o universal é sempre uma incalculável emergência, ao invés de uma estrutura descritiva. Pela mesma razão, afirmo que a verdade é intransitiva ao conhecimento e até mesmo esse ponto é essencialmente desconhecido. Este é um outro modo de explicar o que eu quis dizer quanto caracterizei a verdade como inconsciência.

Chamo de particular aquilo que pode ser discernido no conhecimento por meio de predicados descritivos. Contrário a isso, chamo de singular aquilo que, embora seja identificado como um procedimento de trabalho na situação, jamais pode ser subtraído por qualquer descrição predicativa. Sendo assim, os traços culturais desta ou daquela população são particulares, no entanto, aquilo que, perpassa esses traços e desativa todo registro da descrição, universalmente convoca o pensamento-sujeito, é  algo singular. Daí a tese dois:

 

  1. Todo universal é singular, ou uma singularidade.

Observações:

Não há possibilidade que o universal suprassuma a particularidade como tal. É comum atualmente se afirmar que a única receita genuinamente universal consiste em respeitar as particularidades. Na minha opinião, esta tese é inconsistente. Isso é demonstrado pelo fato de que qualquer tentativa de colocá-la em prática invariavelmente se volta contra as particularidades nas quais os advogados da universalidade formal julgam como intoleráveis.

A verdade é que para manter esse respeito pela particularidade como um valor universal, se faz necessário em primeiro lugar distinguir entre as boas e as más particularidades. Em outras palavras, é necessário tentar estabelecer uma hierarquia numa lista de predicados descritivos. Isso será reivindicado, por exemplo, quando uma cultura ou religião particulares forem consideradas más se não incluem em si mesmas o respeito por outras particularidades. Entretanto, isso é obvio para estipular que o universal formal já se incluiu na particularidade. Ultimamente, o protocolo – geralmente violento – quer erradicar particularidades genuinamente particulares (isto é, particularidades imanentes) porque quer congelar os predicados dos últimos em combinações identitárias auto-suficientes.

Portanto, não se faz necessário preservar o universal como uma regularização do particular ou das diferenças senão como uma singularidade que é subtraída dos predicados identitários; embora obviamente perpasse por esses predicados. A subtração das particularidades deve se opor à sua suposição. Mas se a singularidade pode reivindicar o universal pela subtração, isto é porque o jogo dos predicados identitários, ou a logica dessas formas de conhecimento que descrevem a particularidade, impedem algumas possibilidades de alcançá-los ou concebê-los.

Consequentemente, uma singularidade universal não está na ordem do ser, mas na ordem de uma repentina emergência. Conforme a tese 3.

 

  1. Todo universal se origina em um Evento, o Evento é intransitivo às particularidades da situação.

A correlação entre universal e Evento é fundamental. De maneira elementar, nós podemos observar que a questão do universalismo político é inteiramente suspensa no regime de fidelidade ou infidelidades que nos apoiamos, não nessa ou naquela doutrina, mas na Revolução Francesa, na Comuna de Paris, em Outubro de 1917, nas lutas de libertação nacional ou no Maio de 1968. Ao contrário, a negação do universalismo político, a negação do motivo mesmo da emancipação, exige mais que uma simples propaganda reacionária. Ela exige que se deve buscar um revisionismo do Evento.

Vejamos, por exemplo, o trabalho de Furet para tentar convencer que a  Revolução Francesa foi algo inteiramente inútil e infecunda; ou as inumeráveis declarações que reduzem o Maio de 1968 à uma galopada de estudantes pela liberdade sexual. O que o revisionismo do Evento visa é a conexão entre universalidade e singularidade. Nada mais que o lugar no lugar, as descrições predicativas são suficientes, e aqui o valor geral é estritamente objetivo, ou a forma do objeto. Quer dizer, portanto, o revisionismo do Evento reside nos mecanismos e no poder do capital e em suas acomodações estatais.

Nesse caso, o destino animal da humanidade é encerrado na relação entre as particularidades predicativas e as generalidades legislativas. Que um Evento inicie um procedimento singular do universal, e constitua seu sujeito, é antinômico ao olhar positivista da particularidade e da generalidade.

O caso da diferença dos sexos é aqui significativo. Nós podemos conceber de modo abstrato as particularidades predicativas que identificam, numa sociedade dada, as posições “homem” e “mulher”. E podemos perguntar como – que os direitos, estatutos, reparações e hierarquias – destas posições são regrados pelas leis em um sentido de igualdade. Isso é importante, mas não fundamenta nenhuma espécie de universalidade na distribuição predicativa deles. Para que isso ocorra, é necessário surgir a singularidade de um encontro, ou de uma declaração, emergindo um sujeito cujo princípio é justamente a experimentação substantiva da diferença dos sexos.

Um tal sujeito resulta, com efeito, no encontro amoroso, na síntese disjuntiva das posições sexuais. A verdade da cena, ou melhor, a singularidade universal, se pronuncia sobre o Dois dos sexos, e finalmente sobre a diferença enquanto tal, cuja cena amorosa é única. Nela há a experimentação subjetiva indivisa da diferença absoluta. É bem sabido em toda parte e sempre que são as histórias de amor que nos fascinam naquilo que diz respeito ao jogo dos sexos. E fascinam por causa dos obstáculos impostos pelas diferenças e particularidades que tais e tais formações sociais nos impõem. Aqui é fortemente visível que a atração exercida pelo universal é justamente aquilo que abstrai, ou tenta abstrair, como singularidade a-social, os predicados do saber.

Portanto, é preciso dizer que o universal advém como singularidade e inicia junto a precariedade daquilo que o suplementa cuja única força reside no fato de que nenhum predicado disponível pode incliná-lo a submeter-se a sua definição. A questão que se coloca é saber qual materialidade, sobre qual efeito de presença inclassificável, se apoia na situação em que o processo subjetivante universal é o motivo global.

 

  1. Um universal se apresenta inicialmente como decisão de um indecídivel

Temos que elucidar cuidadosamente esse ponto.

Chamarei de “enciclopédico” o sistema geral dos saberes predicativos internos à uma situação, ou o que sabemos imediatamente sobre a política, sobre a sexualidade, sobre a cultura ou a arte e sobre as técnicas. Certas coisas, enunciados, configurações, fragmentos discursivos não são decisórios, quanto ao seu valor, a partir desse saber enciclopédico. Eles têm um valor incerto, flutuante, anônimo: constituem a margem da enciclopédia. Tudo fica regulado ao regime do pode ser que sim, pode ser que não. É o que podemos falar interminavelmente, sobre as regras, ela mesma enciclopédica, da não decisão. O constrangimento do saber reside em não conseguir se decidir.

Tal como atualmente pensamos sobre Deus, por exemplo. Afirmamos voluntariamente que pode ser que exista “alguma coisa”, pode ser que não. Deus é em nossas sociedades, um valor de existência inefável: espiritualmente vago. O mesmo se dá sobre a existência possível de uma “outra política”, falamos sobre isso mas não vemos nada acontecendo. Ou ainda: os trabalhadores ilegais (imigrantes) que trabalham hoje na França compõem o país, a França? Eles são daqui? Sim, sem dúvida tendo em vista que vivem e trabalham aqui. Não, tendo em vista que não tem documentos que atestam que ele são franceses, ou regras. A palavra “clandestino” designa incerteza de valor, ou melhor, não-valor do valor. Gente que estão aqui, mas verdadeiramente não são daqui. E, portanto: expulsáveis, o que significa expor possivelmente o não-valor do valor (trabalhador) de sua presença.

Fundamentalmente, um evento é o que se decide sobre uma zona de indecidibilidade enciclopédica. Mais precisamente, ele é uma forma implicada de tipo: E > D (έψιλον). Com efeito: toda subjetivação real do Evento, à medida que desaparece em sua aparência, implica que έψιλον, que é indecídivel na situação foi decidido. Assim, por exemplo, a ocupação da igreja de São-Bernardo pelos trabalhadores ilegais, que proclamam publicamente a existência e o valor do sem-valor, decide que aqueles que são daqui sejam daqui, e com isso fazem com que caia a palavra “clandestino”.

Chamarei έψιλον o enunciado do Evento. Em virtude da regra lógica da indiferença, vemos na abolição do Evento –  cujo ser inteiro está desaparecendo, deixando subsistir o enunciado  έψιλον do Evento –  aquilo que ele implica ao mesmo tempo sendo portanto: a) um real da situação (porque já estava lá); b) Mas que assume uma mudança radical de valor tendo em vista que era indecidivel e se tornou decidivel. Ou ainda: não tinha valor e agora tem; c) diremos, então, que a materialidade inaugural de uma singularidade universal é declarada pelo Evento. Ele fixa o presente do sujeito-pensamento do qual o universal é o tecido.

Assim, no encontro amoroso, sob uma ou outra forma, ao se declarar “eu te amo” se fixa o presente subjetivo mesmo que o encontro em si se torne uma circunstância fugaz. Isso ocorre porque uma síntese disjuntiva indecidível é decida e fixada como a emergência do sujeito e as consequências do enunciado do Evento. Notemos pois que todo enunciado do Evento – seja sob a forma, proposição, obra, configuração ou axioma – é de estrutura declarativa. Implicada pelo aparecer-desaparecer do Evento, a declaração na qual o indecidivel foi decidido, ou ainda que dos sem-valor emergiu um valor. E é nesta declaração que vem junto o sujeito constituído, e é ele quem trabalha o espaço possível de um universal.

De agora em diante, não é mais uma questão, para o universal se desdobrar, que seja consequente com o enunciado do Evento, quer dizer temos que tirar as consequências da situação.

 

  1. O universal é de estrutura implicativa

Uma objeção muitas vezes feita a ideia de universalidade é que tudo que existe, ou tudo o que é representável, se relacionas às condições particulares e as suas interpretações governadas por interesses ou por forças dispares. Com efeito, não poderíamos ter a apreensão do universal e da diferença, tendo em conta a irredutibilidade da apreensão sexual conforme o modo como se ocupa a posição “homem” ou a posição “mulher”. Ou ainda, os diversos grupos culturais nomeados de produtos de atividade artísticas sem um denominador comum. Ou mesmo uma proposição matemática não seria intrinsicamente universal tendo em vista que depende, quanto à sua validade, dos axiomas que a sustenta.

Esse perspectivismo hermenêutico esquece que toda singularidade universal se apresenta como resultado de consequências de uma decisão Eventamental. O que é universal é sempre a forma épsilon > pi, e enuncia o Evento do qual pi é uma consequência, ou uma fidelidade. Escusado será dizer que para que se recuse a decisão, portanto, sobre épsilon, para reenviar reativamente épsilon a seu estatuto de indecidibilidade, para que aquilo que adquiriu valor perca seu valor, a forma implicativa não exige que a consequência de pi seja um resultado. No entanto, terá que confessar que existe universalidade da própria implicação. Em outras palavras, as consequências necessárias serão inventadas se você subjugar o evento de sua declaração.

Sob esse ponto de vista, o epilogo do Menon de Platão resta incomparável. Se um escravo ignora toda a fundação do Evento da geometria e não pode validar a construção do quadrado de superfície dupla, a proposição falha. Se, todavia ele domina os ensinos primordiais, é porque aceita subjetivamente a transmissão. É subjetiva assim a construção considerada. A implicação que inscreve esta construção no presente que instaura o surgimento geométrico grego é, portanto, universalmente valida.

Diremos: você fara uma bela festa com a indiferença matemática. Mas não. Todo procedimento universalizante é implicativo. Detém as consequências do olhar do enunciado Eventamental que fixa o Evento. O protocolo de subjetivação, se inicia sob este enunciado, e  por isso mesmo é capaz de inventar as consequências e os detalhes como universalmente reconhecíveis.

A negação reativa do Evento em si mesmo, o máximo nada do lugar como lugar, é sem dúvida o seu meio de minar uma singularidade universal. Ele desqualifica as consequências e anula o presente do procedimento. Mas resta incapaz de anular a universalidade da implicação por si mesmo. Se por exemplo a Revolução Francesa a partir de 1872 é um evento radical, evidenciado pela declaração imanente de que a revolução é como tal uma categoria política, então é verdadeiro que os cidadão não constituíram senão a dialética da Virtude e do Terror. Esta implicação esta fora do alcance, e é universalmente transmissível, por exemplo nos escritos de Saint-Just. Evidentemente, se a revolução não é nada, a virtude como disposição subjetiva não existe mais, e nem resta o terror como fato insano, sobre o qual se impõe como portador de um julgamento moral. A politica desapareceu. Mas não a universalidade da implicação que a desposa.

E não é nulo a lição de evocar, sobre este ponto, um conflito das interpretações. Esta é nossa tese 6.

 

  1. O universal é unívoco

Até agora, a subjetivação é uma consequência que constitui uma singularidade universal, uma lógica unívoca da fidelidade. Temos que nos voltar nesse ponto para o enunciado Eventamental. Lembrarmos do título da entidade indecidivel, o círculo na situação. E há um consenso por sua vez sobre a existência e sobre sua indecidibilidade. Ontologicamente, é uma multiplicidade que compõe a situação. Logicamente é um valor intermediário não decidido.

O que se passa eventalmente não concerne nem ao ser no jogo do evento, nem ao sentido deste enunciado, mas unicamente naquilo que foi decidido, ou decidido verdadeiramente, enquanto era indecidivel. Ou ainda aquilo que, sem valor significativo, passa agora a adquirir um valor excepcional. Tal como o clandestino que, em São Bernardo – mostra sua existência.

Dito de outro modo, o que afeta o enunciado, tal que é pego implacavelmente pela desaparição eventamental, é de da ação, e não da ordem do ser ou do sentido. E é precisamente o que se registra da ação que é unívoca. No ponto em que o enunciado foi decidido se subtrai toda interpretação. E não se apega ao sim ou não, como também de nenhum modo a pluralidade equivoca dos sentidos.

Na realidade é um ato lógico, ou para dizer juntamente com Rimbaud, uma revolta lógica. O que a lógica anterior tem de indecidivel ou não-valor, o Evento trança em favor de sua verdade ou de seu valor eminente. Não é evidentemente possível que se, de passo a passo, toda a logica da situação seja transformada, a partir do ato unívoco que modifica o valor dos componentes da situação. O ser-múltiplo da situação não é, ele, transformado, mas seu aparecer lógico, o sistema de avaliação e de ligação das multiplicidades, pode ser um caminho muito profundo. E é a trajetória dessa mutação que constitui a diagonal universalisante da enciclopédia.

A tese de equivocidade do universal recoloca de fato a singularidade universal nas generalidades que legiferam sobre as particularidades. Ele só capta o ato logico que instaura universalmente e univocamente uma transformação de todo aparecer. Pois qualquer singularidade universal pode ser assim definida: o ato que, encadeia um sujeito-pensamento, provando-se capaz de criar um procedimento de modificação radical da lógica, e portanto, o que aparece como aparece. Esta modificação, evidentemente, não é nunca concluída. Pois o ato unívoco inicial, sempre localiza, engaja uma fidelidade, quer dizer uma invenção das consequências, que são todas assim infinitas na situação por elas mesmas. Como na tese 7.

 

  1. Toda singularidade universal é inacabada ou aberta

O único comentário que busca esta tese implicada ao nó do sujeito, como localização de uma singularidade universal, e infinito, como lei ontológica de ser-múltiplo. Demonstramos sobre este ponto que entre as filosofias da finitude por um lado há um relativismo e, por outro a negação do universal e o descredito da noção de verdade. Diremos em uma única máxima: a surda violência, a arrogante ingerência da concepção dominante dos direitos humanos provém de que estes direitos são em realidade os direitos da finitude e, finalmente, mostra o insistente tema da eutanásia democrática, os direitos à morte. A concepção eventamental das singularidades universais impõe que os direitos do homem sejam infinitos, como Jean-François Lyotard havia observado no Diferendo, ou ainda os direitos da afirmação infinita. Eu diria mais exatamente: os direitos do genérico.

 

  1. O universal não é nada mais que a construção fiel de um múltiplo genérico infinito

O que deveríamos entender por multiplicidade genérica? Simplesmente um subconjunto da situação que não é determinada por nenhum predicado do saber enciclopédico; um múltiplo como pertencente a ele, ser um elemento, não como o resultado de qualquer identidade, de qualquer propriedade particular. Se o universal é para todos, é no preciso sentido de que a inscrição não depende de qualquer determinação particular.

Por isso, o encontro com o politico, que é universal por sua indiferença de proveniência social, nacional, sexual, ou de gênero. Igualmente o casal amoroso, que é universal por produzir uma verdade indivisa sobre a diferença das posições sexuais, tal como, a teoria cientifica que é universal quando se abstém de deixar em sua implementação a marca de sua origem, tal como as configurações artísticas, cujos sujeitos são as obras, ou como constata Mallarmé, o autor é uma particularidade abolida. Nesse ponto as configurações inaugurais exemplares, como Ilíada e Odisseia, são  tais que o nome próprio que as sustentam, Homero, refere-se apenas ao vazio de todo sujeito.

Portanto, o universal emerge de acordo com um suplemento, deixa como traço a desaparição do Evento que o funda como simples enunciado destacado. Inicia seu processo com o ato unívoco pelo qual é decidido o valor daquilo que não tinha valor, conecta a este um sujeito-pensamento que inventa as consequências, constrói fielmente uma multiplicidade infinita genérica, que em sua abertura mesma é como aquilo que Tucídides havia declarado como o que seria a diferença da particularidade histórica da guerra do Peloponeso: a história escrita dessa guerra é uma aquisição eterna da humanidade.

 

[1] Traduzido direto do francês, encontrado em https://www.lacan.com/baduniversel.htm

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