Cinema e conjuntura brasileira

Por Arthur Moura

A produção cinematográfica brasileira está mergulhada na contradição social histórica e atual do país. O que se percebe é que desde o acirramento das tensões sociais principalmente no pós-crise de 2008, as produções têm retratado diversos episódios e momentos como forma de iluminar o presente ou simplesmente mistificá-lo. O cinema torna-se arma de guerra imprescindível nas disputas. Não há como fugir dessa realidade. Os diferentes campos políticos constroem cada qual sua leitura da realidade buscando a partir de suas produções defender um determinado projeto e influenciar os rumos da sociedade. A difícil tarefa da produção para a maioria dos produtores tem se tornado ainda mais penosa, visto a escassez de financiamentos e formas de distribuição. Enquanto produtores independentes desaparecem ou são facilmente cooptados, empresas de comunicação emergem notabilizando-se de forma artificial e instantânea.


“A missão histórica da burguesia já está terminada: é uma classe em declínio, que só consegue defender-se por meio da violência e das artimanhas.” Herni Lefebvre

Os reacionários usam o cinema como forma de propagar o revisionismo histórico construindo e imaculando figuras grotescas como Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro. Este cinema é baseado em mentiras e deturpações com forte apelo a valores neofascistas notadamente intolerantes com o diferente e com tudo que consideram esquerda. É um cinema destituído de alteridade, pobre no que diz respeito à linguagem e argumentos, cheio de ódio e rancor, financiado pelo empresariado, mas cada vez mais apoiado por seguidores na internet que fazem iniciativas como o Brasil Paralelo crescer fabricando diretores igualmente rasos como Josias Teófilo. O governo neofascista de Bolsonaro ainda que dissimule um desdém também está atento para a importância dessa ferramenta. Que papel tem o cinema de esquerda neste contexto?

Josias afirma que todo o cinema nacional simplesmente não presta. “É como se a gente recebesse tudo de segunda mão. Parece que não tem nada de originário, de fundamental sendo feito. Não existe um filme que você diga: este filme precisa ser visto.” A estratégia da desqualificação sem ressaltar qualquer relevância nas demais obras produzidas é a mesma adotada por políticos, intelectuais e empresários ultra-reacionários quando se pretende combater seus adversários isentando-os de elaborar argumentos consistentes contra o que discordam. É uma espécie de argumento de autoridade frágil, sempre sarcástico, abaixo da crítica; único artifício que encontram para sua auto-afirmação. Segundo Josias, isso tudo acontece “porque as pessoas têm uma tendência muito ideológica no cinema nacional”, o que lhe parece um absurdo sendo isso um grave poluente ainda que suas produções estejam mergulhadas em valores e forte ideologia conservadora que socialmente tem clara intenção em defender os interesses da classe dominante. O problema na verdade não é a ideologia, mas qual leitura de mundo se produz. E completa Josias em entrevista ao Brasil Paralelo (sucursal do MBL):

“E como essa tendência ideológica se reflete na realização dos filmes? É no esquematismo, por assim dizer. Vamos dar um exemplo, o filme Aquarius. O filme tem esse problema de tratar sob o ponto de vista… aquele maniqueísmo socialista. Por um lado tá o empresário, por outro tá ali a pessoa boazinha, independente, na visão deles. E o recorte sempre de luta de classes. As pessoas estão fazendo um esquema baseado numa teoria. Qual é essa teoria? Principalmente a teoria marxista. Ou seja, de luta de classes. Existem classes que são essencialmente más e classes que são essencialmente boas. Os empresários são as pessoas más que estão ali para atrapalhar e explorar o trabalhador, as pessoas puras de coração. Isso é muito curioso.”

Imagem 1 Josias Teófilo e Olavo de Carvalho

Na verdade o marxismo nunca afirmou que há classes boas ou más. Segundo Wagner Rossi em seu livro Capitalismo e Educação:

“Regra geral, os empresários têm clara preferência pelos regimes políticos conservadores mais autoritários que, com mão-de-ferro, sufoquem as reivindicações populares, proíbam o funcionamento dos sindicatos, tornem ilegais os partidos reformistas e revolucionários e lhes ofereça o “povo” de mãos atadas para a exploração de seus trabalhos, que será de molde a de tudo despojá-lo, em benefício do lucro das empresas (dos capitalistas).”

A dominação é estrutural, portanto econômica, política, cultural e social. Vejamos o que diz o próprio Manifesto Comunista de Marx e Engels:

“Desde as épocas mais remotas da história, encontramos em praticamente toda parte, uma complexa divisão da sociedade em classes diferentes, uma gradação múltipla das condições sociais. Na Roma Antiga, temos os patrícios, os guerreiros, os plebeus, os escravos; na Idade Média, os senhores, os vassalos, os mestres, os companheiros, os aprendizes, os servos; e, em quase todas as classes, outras camadas subordinadas. A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das velhas. No entanto, a nossa época, a época da burguesia, possui uma característica: simplificou os antagonismos de classes. A sociedade global divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se defrontam: a burguesia e o proletariado.”

Essa leitura tosca que Josias Teófilo porcamente faz da teoria marxista e das contradições sociais é equivocada por afirmar o marxismo ou mesmo a luta de classes como um maniqueísmo retórico ou esquematismo o que demonstra não só desconhecimento, mas péssima intenção e desonestidade intelectual. Segundo a leitura conservadora é a “ideologia de esquerda” que divide a sociedade entre brancos e negros, pobres e ricos, homens e mulheres, capitalistas e proletários o que acaba por gerar confrontos que seriam benéficos em última instância a setores de esquerda que pretendem destruir o país e instaurar o temido comunismo na sociedade. Essa sim é uma leitura esquemática e pobre, pois é o próprio capitalismo que a partir das relações de poder que estabelece organiza a sociedade entre os que servem e os que são servidos, entre patrões e empregados, ou seja, entre explorados e exploradores gerando todo um conjunto de opressões de todas as ordens. A contradição está colocada dessa forma.

Principalmente obras cinematográficas estão intimamente ligadas a algum corpo teórico, que obviamente não segue necessariamente as diretrizes do marxismo. Um filme, por exemplo, pode reproduzir valores conservadores ou emancipadores do ponto de vista social e humano e todos possuem algum tipo de valor histórico seja para negar ou superar determinadas práticas. Destituir um filme de valor simplesmente por evidenciar ou denunciar os antagonismos sociais responde a um determinado conjunto de interesses que visa explicar e compreender as contradições sem tocar na gênese dos processos históricos ou contando tais processos omitindo uma série de elementos sem os quais se produz uma leitura equivocada da história geralmente servindo para justificar a dominação de uma classe sobre outra.

A divisão social existente geradora de contradições notórias é resultado da organização social moderna estabelecida entre detentores dos meios de produção e aqueles que dispõem somente da força de trabalho como forma de manter-se ou sobreviver no capitalismo. Não foi nenhum teórico esquerdista mal intencionado que inventou isso. Foi o próprio capitalismo que organizou (e organiza) a sociedade em segmentos sociais antagônicos. O cinema conservador, portanto, teria o papel de regenerar a sociedade unificando-a forçosamente mesmo diante de contradições históricas que divide as populações em diferentes estratificações e classes, funções e papéis sociais. Mas Josias, assim como Bolsonaro, Olavo de Carvalho e demais asseclas, não produz uma leitura equivocada e sim uma defesa incansável de setores historicamente dominantes como o grande empresariado, patrões e forças armadas, já que muitas instituições também estariam degeneradas visto a intrusão da esquerda que corroeu suas bases. O problema não seria a miséria ou a brutal repressão policial e assassinato de militantes ou os largos lucros empresarias, mas o mal esquerdista: o comunismo. O cinema conservador combate seu inimigo histórico: os trabalhadores.

Por outro lado, há o cinema dito de esquerda que vem ganhando certo destaque e não deixa de ter papel importante na disputa por consciências. Dentro deste amplo espectro da esquerda existe o cinema progressista que adota uma compreensão dos fatos longe dos antagonismos de classe denunciando mais os rompimentos democráticos da ordem burocrática e há o cinema independente que tem suas várias particularidades e que na maioria das vezes busca um rompimento com a desgastada narrativa reformista. O cinema reformista retrata o estado atual de coisas envergando-se para os limites do próprio capital, não tratando da natureza da contradição entre capital e trabalho, das lutas de classes a partir de uma leitura histórico-dialética e da organização dos trabalhadores limitando-se a denunciar o autoritarismo da direita como um retrocesso numa democracia conquistada a duras lutas o que acaba por funcionar como um marketing ancorado no espetáculo. De fato as lutas foram acirradas e a perseguição deu fim a muitas vidas dedicadas a lutar por um mundo mais justo. No entanto, essa democracia continua fielmente comprometida com os mesmos historicamente, qual seja, os interesses da burguesia. Os destinos dessa democracia não tem qualquer relação com as necessidades dos trabalhadores, mas sim com os interesses e necessidades da burguesia e suas classes auxiliares, a burocracia, a justiça, a repressão, etc. Pensemos, por exemplo, algumas obras como Democracia em Vertigem, Excelentíssimos, O Processo e No Intenso Agora.

A maioria desses filmes se coaduna com uma perspectiva político partidária com partidos como o PT adotando o discurso da democracia representativa, da cidadania e dos direitos fundamentais. É o caso do novo filme de Petra Costa, por exemplo, que traz uma narrativa melancólica com grave sentimento de perda, mas que ainda assim mantém uma esperança frente aos desafios. Petra vem sendo construída como uma cineasta revelação. Produziu Elena, filme que retrata uma experiência trágica familiar, de forma poética e esteticamente muito bonito. Isso quer dizer que a esquerda está construindo seus ícones e o critério é a repercussão que determinada obra ou cineasta oferece o que viabiliza financiamento e distribuição das produções. Democracia em Vertigem é notadamente marcado por uma leitura quiçá ingênua sobre o funcionamento da política, da função da economia, da burocracia e estrutura jurídica do Estado burguês e tem como defesa de projeto de sociedade um governo reformista como uma linhagem atual da social democracia o que não compromete as bases do capitalismo dando-lhe sobrevida. É relativamente fácil produzir uma análise crítica contundente ao filme de Petra, mas não deve ser somente este o objetivo de quem busca construir um cinema verdadeiramente crítico ou se quiser revolucionário.

Para resumir a ópera, numa democracia burguesa é impossível a horizontalidade e a participação popular a não ser pela imposição das massas. Lula e Dilma foram chefes de Estado igualmente comprometidos com o capital; nem de longe buscaram qualquer rompimento com a ordem burguesa até porque essa nunca foi sua função. O governo do PT ao passo que promoveu uma determinada distribuição de recursos ainda que limitada também reprimiu de forma firme os movimentos populares, as greves e ocupações. Em Excelentíssimos de Douglas Duarte em nenhuma fala de Lula ou Dilma está presente os termos “burguesia”, “classe social”, “contradição”, muito menos “comunismo” ou “socialismo”.  “Democracia” é um termo genérico que nada explica se não pensarmos o contexto sócio-histórico. A burguesia domina por meio da sua força econômica que é garantida pelos Estados modernos de caráter predominantemente capitalista. Por isso Estado e capital estão embrenhados e são interdependentes. Os golpes por sua vez se dão para garantir a manutenção histórica dos Estados. A democracia, portanto, é burguesa; opera por meio da representatividade excluindo a participação popular a não ser em períodos eleitorais que na verdade é uma participação forçada e meramente simbólica. Isso quer dizer que não se espera nenhum tipo de avanço substancial da sociedade além de reformas que ainda assim manterá os trabalhadores sob domínio total, escravos da produção de mercadorias.

      Imagem 2Petra Costa

Neste sentido, o filme de Petra Costa na verdade denuncia a completa negação da crítica estando em vertigem nada mais que o cinema como ferramenta política contra o status quo. É um cinema-propaganda nostálgico que pergunta “O que você sentiu” ao invés de “O que pensa sobre este assunto?” A voz lamuriosa em off lamenta algo que supostamente se perdeu ou que poderia avançar para estágios mais avançados não fosse a direita vil atrapalhar o processo. Ainda que não ofereça perigo à ordem burguesa, obviamente há um valor histórico nessa obra, mas não é somente para isso que devemos voltar nossa atenção e sim para a intenção ou proposta central do filme. Para onde ele aponta? Que interesse tem? Lamentar a morte da democracia num país onde nunca em sua história houve qualquer resquício de democracia real é na verdade uma falsificação da realidade. Tudo isso nem é novidade. Apesar de termos de lutar contra as forças reacionárias isso não quer dizer que devemos afirmar o projeto de sociedade reformista de “esquerda”. Essa esquerda lembrada em tom choroso não diferencia-se da direita quando o assunto é manter a estrutura intocável. Enfim, o filme aponta (do ponto de vista político) para um mais do mesmo. Essas são reflexões que vão aparecendo quando analisamos este documentário.

Mas outra questão nos parece igualmente importante: que cinema se quer construir em alternativa à crítica arrefecida deste cinema-propaganda? Que relações são necessárias para se criar condições à produção de um cinema que pense a história de forma comprometida com a emancipação humana e a revolução social? Nada no cinema-propaganda deve nos espantar. No entanto, há um outro cinema que deve surgir sob outras bases e que não se resumirá somente em criticar o modelo existente.

No Intenso Agora, filme novo filme de João Moreira Salles, tem uma abordagem sociológica mais avançada; já nos primeiros frames o diretor descreve o central da contradição social num vídeo familiar, onde a empregada sai de cena dando protagonismo a quem deve ser protagonista:

“A câmera pensa que está registrando apenas os primeiros passos de uma criança. Sem querer, mostra também as relações de classe no país. Quando a menina avança, a babá recua. Ela não faz parte do quadro familiar e muito provavelmente sem que ninguém peça vai ocupar o fundo da cena onde se confunde com os passantes. Nem sempre a gente sabe o que está filmando.”

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Intenso Agora trata do Maio de 68 na França, da Revolução Cultural maoísta na China e da ditadura no Brasil.

“Maio em Paris, do acervo de gestos de 68 esse é o mais marcante. O corpo vergado para trás, o braço em estilingue, a energia represada a um segundo da descarga, o giro de atleta olímpico e quase sempre o recuo.”

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Resgatando imagens amadoras que sua mãe fez em viagem a China na década de 60, o diretor contextualiza as imagens ao momento histórico de lutas populares como o colapso da sociedade francesa do final da década de 60 que começou com intensa luta estudantil alastrando-se para o restante da sociedade. Salles, a partir de olhar crítico, coloca-se também como parte da contradição. É um cinema que analisa com criticidade mostrando os confrontos sociais sem mistificá-los, pois todos os processos analisados envolveram organização popular e a defesa de um projeto de sociedade emancipador ainda que tenha reproduzido contradições no interior dos seus processos.

Econômica e politicamente caminhamos a passos largos para um modelo de sociedade cada vez mais repressora, ultra-liberal e absolutamente selvagem (movimento necessário à recuperação da dinâmica predatória do capital) radicalmente contra qualquer projeto de esquerda (progressista ou revolucionário) com forte viés fascista o que resulta em intenso acirramento das lutas de classes colocando os trabalhadores frente a seu maior desafio. O aumento da repressão é uma demonstração de força e poder do Estado e do capital com o objetivo claro em evitar qualquer dissenso sob forte ameaça das oposições. A repressão estatal de uma forma geral vem cometendo todo tipo de atrocidades na defesa dos interesses econômicos do capital colocando-se como fiel capataz da burguesia, como em toda sua história se propôs a ser. O capitalismo está apenas assumindo sua face mais crua sem muitos floreios. Neste sentido a escolha por Bolsonaro não foi acidental. Não fossem as articulações que resultou em notório golpe de Estado institucional-jurídico-midiático seu mandato não teria êxito.

O golpe de Estado de 2016 é analisado em detalhe no filme de Douglas Duarte e também n´O Processo de Maria Augusta Ramos que mostra perfeitamente bem que Bolsonaro é um golpista descarado, neofascista que não esconde suas intenções; mas ainda assim é necessário, visto os desafios do capital que optou por um governo mais radical na garantia das reformas e cortes de todas as ordens sem comprometer os lucros patronais deixando o ônus aos mais pobres convencendo estes com falsos argumentos reproduzidos por figuras compradas como apresentadores de TV, modelos e outras figuras de certo prestígio na sociedade. As articulações fizeram inclusive com que a esquerda parlamentar burguesa permitisse o golpe sem qualquer alteração dos ânimos em troca de continuar gozando dos benefícios da vida democrático institucional acreditando em sua regeneração. Foi a forma que encontrou de não ser totalmente expulsa do jogo. Mas será, aos poucos. Enquanto isso os trabalhadores são duplamente massacrados. De um lado pela burguesia e seus aparatos e de outro pela neutralização de partidos políticos de esquerda, sindicatos e demais burocracias.

Isso fez com que o discurso contra o fascismo eclodisse com força como um berro agora na garganta dos partidos de esquerda, das Universidades e sindicatos que também praticam seus autoritarismos contra os trabalhadores historicamente inclusive impedindo sua auto-organização. Por mais que tenhamos que reconhecer que a repressão assola professores universitários, sindicalistas e parlamentares, não podemos esquecer que estes mesmos setores são absolutamente contrários a qualquer movimento radical contra o capital e que sua função institucional é regular as contradições de classe não deixando o leite derramar. Em UTOPIA e cidade, um dos filmes que produzi, por exemplo, é possível ver a reação conservadora de professores da UFF contra piquetes e ocupação do campus pelo movimento estudantil em período de greve. Aqui na prática percebemos que o progressismo/reformismo é nada mais que uma ala do conservadorismo. Os mesmos professores que são contra piquetes e greves mostram-se fraternos com figuras como Manuel Rolph Cabeceiras, professor ultra-conservador do departamento de História da Universidade Federal Fluminense que convidou a articulou com Sara Winter eventos no interior da universidade com a finalidade de disseminar o neofascismo. Como todos sabemos Sara Winter é uma figura abjeta coadunada com todo tipo de ódio contra esquerda. Ela se diz anti-feminista. É como uma reprodução jovem da atual ministra de Bolsonaro que afirma todo tipo de sandice.

O discurso da esquerda contra o fascismo, no entanto, não se conciliou com a prática principalmente no que diz respeito ao combate ao fascismo que tanto se denuncia. É muito mais um discurso sem lastro na prática que busca negociar e dialogar com o poder ou promover manifestações de indignação contra o estado atual de coisas, mas sem comprometer as “opiniões” contrárias, respeitando a democracia como o bem mais precioso do mundo mesmo que a força contrária queira aniquilar o adversário. É aí que devemos pensar: a esquerda reformista é realmente contra o fascismo e demais formas autoritárias de poder? A resposta é obviamente não. Que formas de lutas este setor vêm empreendendo no sentido de combater este fascismo? Na verdade o reformismo é a cama onde deita o fascismo. Jean Barrot faz importante crítica contra este antifascismo calcado na democracia burguesa incapaz de rompimento radical contra o capitalismo e a ordem burguesa.

“Numa época de inflação verbal, “fascismo” é apenas uma palavra-chave usada pelos esquerdistas para ostentar radicalismo. Seu uso indica, além de confusão mental, uma importante concessão teórica ao Estado e ao Capital. A essência do antifascismo consiste em lutar contra o fascismo apoiando a democracia. Em resumo, o antifascista não luta contra o capitalismo, mas para impedi-lo de assumir uma forma totalitária. Ao identificar o socialismo com a democracia total, e o capitalismo com o crescimento do fascismo, os antifascistas abandonam a contraposição proletariado/capital, comunismo/trabalho assalariado, proletariado/Estado em favor da oposição democracia/fascismo, que apresentam como a quintessência da perspectiva revolucionária.” (Fascismo e antifascismo – Jean Barrot)

O desafio colocado para o cinema neste momento não é simples. É necessário haver um estímulo a produção dando condições materiais para que isso ocorra. Nesse sentido, a esquerda de uma forma geral tem que pensar formas de financiamento e distribuição. Superar uma série de contradições colocadas obviamente não depende exclusivamente do cinema, mas sua importância para o momento político é central pois é eficiente arma de comunicação e que a partir disso torna-se força importante na mudança das mentalidades na busca por um caminho emancipatório que envolverá lutas árduas. A esquerda de uma forma geral ainda não pensa o cinema de forma comprometida como arma política. Por outro lado poucos são os produtores que se associam de forma a potencializar as produções. Isso ocorre por falta de organização.


* Arthur Moura é cineasta (202 filmes), formado em história (UFF) e mestre em Educação (FFP-UERJ)


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