Um protesto contra o liberalismo de esquerda

Por Eduardo Borges*

Com a saída de Moro, a classe trabalhadora anti-sistema se auto-percebe como órfã de um partido político, abrindo assim um novo horizonte histórico, a revolução brasileira. A essência se apresenta na aparência, não havendo mais, a possibilidade concreta da alienação política da práxis futura. Assim não há mais alternativa para a classe trabalhadora a não ser fazer com as suas próprias mãos.


Um protesto contra o liberalismo de esquerda

Um protesto contra o pensamento liberal de esquerda mais funesto que insiste em constranger como ‘’gado’’ ou ‘’eu avisei’’ um desejo muito mais elevado moralmente do que os seus próprios. Vejamos os porquês. O eleitor típico de Bolsonaro não é aquele lunático que se mostra nas medíocres manifestações e nem das figuras típicas de perfis de ódio no facebook. O eleitor típico do Bolsonaro são os milhões de trabalhadores que deslizou seu voto de Lula para Bolsonaro expresso na campanha de 2018.  A posição que estes tomam na prática expressa as posições daqueles que sabem há muito tempo que a democracia não existe em nosso país, e que são eles: os mais miseráveis, os mais explorados do sistema. Estes sabem há 500 anos que a democracia aqui nunca existiu, logo, na medida que o eleitor típico de Bolsonaro quer acabar com o sistema e ‘’tudo isso que ta aí’’ eles se colocam como os que possuem concretamente, objetivamente, ontologicamente, a moral e o confiabilidade da crítica, por mais abstrata que seja ela, e queriam o que? ‘’Que depois de longos anos de governos tucanos e especialmente petistas que essa classe trabalhadora saísse com o manifesto comunista embaixo do braço? ’’ como dizia o camarada Nildo Ouriques – Desses governos saíram duas misérias que possuem diferenças, mas principalmente similaridades, a arrogância e ódio de classe dos liberais de esquerda como por exemplo, e muito bem expresso na fala da uspiana Marilena Chauí contra a classe média e a semente do fascismo da Direita que nunca foi combatido, pensemos por exemplo a configuração ideológica do exército brasileiro que nunca foi enfrentado pelos governos petistas, e a culpa é deles, porque da direita não esperamos nada. Mas brotou no seio dessa contradição, a alternativa popular, por mais contraditória que ela tenha se apresentado a anos atrás, mas que está se desenvolvendo até a sua autoconsciência. Do grito anti-sistema à autoconsciência de sua solidão, o povo trabalhador se põem como os que estão ao lado dos anseios mais justos, daqueles que se encontram embaixo das pontes, nos semáforos, nas prisões, e como dizia Benjamin, até aqueles que já estão debaixo do solo brasileiro.

Nessa luta devemos estar ao lado do povo trabalhador, e nesse momento eles estão órfãos. Se a esquerda parlamentar, liberal não compreender esse movimento do real e se colocar como representantes do governo, nós (classe trabalhadora, socialista e comunista) devemos definitivamente, tratá-los como inimigo do povo. Em relação a classe trabalhadora que expressa e reproduz essa concepção liberal de esquerda, que desça ao real mundo da luta pelo poder, porque é só estando no marco das trincheiras pela luta pelo poder que tal concepção se revelará falsa. A classe trabalhadora anti-sistema a cada vez mais vinha percebendo essa falsidade dos discursos do governo (do Bolsonaro nesse caso), que agora se revela objetivamente falso com a saída de Moro.

A dialética na história e o dilema de Sergio Moro

Porque a classe trabalhadora está órfã? Bolsonaro não pode entregar o que prometeu a classe trabalhadora. Com Moro saindo, o governo se divide, de tal modo , que o real se impõe e se mostra para as consciências do povo. Este se divide entre Moro e aceitar o complô do parlamento (covil de ladrões) contra Bolsonaro, ou ficar com Bolsonaro e aceitar sua farsa. Nessa relação peculiar (dialética), o que acontece é que ambos se fundem, isto é, fica sabido que Moro e a justiça é representante do que é mais podre na política e dos interesses da burguesia, e o mesmo acontece com Bolsonaro, este agora se mostra como verdadeiramente é, isto é, como um político vulgar tal como o covil de ladrões (parlamento e supremo) que ele sempre criticou para o seu eleitorado.

O dilema de Sergio Moro é simples, ele teve que escolher entre duas alternativas possíveis (porque ao lado dos interesses do povo ele não está) que necessariamente iria o desqualificar no processo político. E é claro, ele aceitou mesmo se queimando, à aquela onde ele poderia alcançar seus próprios objetivos, tanto o poder executivo, como o poder judiciário. O dilema de Moro é a expressão mais bem-acabada e típica do caráter político do direito e da justiça burguesa.

Disso resulta que uma terceira via deve aparecer, e qual será? Antes de afirmar que poderia ser o Exército (generalato), devemos analisar a sua situação. Este num primeiro momento, como é o momento do aqui e agora, está se queimando frente a ‘’opinião pública’’ ou melhor, a consciência do povo por estar atrelado ao governo. Num segundo momento, pode muito bem o Exército, e devemos analisar a questão em seu movimento real, deslizar junto com o complô do covil de ladrões para impichar Bolsonaro, tal como fez Temer. Nesses dois movimentos cremos que não haver uma solução para o exército que possa unificar em torno de si um posicionamento político adequado as imposições da classe trabalhadora anti-sistema. Assim sendo, o Exército pode se impor para levar a cabo os interesses da embaixada de Washington goela a baixo, mesmo não havendo uma coesão do estado com a sociedade civil, como ainda há no governo Bolsonaro. Essa coesão é afetada ainda mais, porque o povo estará vendo, caso o Exército se junte ao parlamento para impichar Bolsonaro, a história se repetir como farsa, pois é unânime para o povo a posição de rechaço ao governo corrupto de Michel Temer. Assim sendo, a única alternativa que se apresenta em termos políticos, que seja a unificação em torno de uma concepção ideológica e do movimento da história, é a necessidade da Revolução Brasileira. E a necessidade da revolução brasileira deve ser entendido objetivamente, concretamente, ontologicamente, isto é, como necessidade objetiva que se impõe aos indivíduos, expressa depois dessa ruptura como a autoconsciência da classe trabalhadora de sua solidão política e logo a necessidade de agir com as próprias mãos.


* Eduardo Borges é formado em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-MG. Pesquisa história da arte numa abordagem marxista. Pesquisa sobre a Estética Marxista em variados autores, sobretudo a produção intelectual do filósofo húngaro György Lukács. Pesquisou sobre as peculiaridades do novo sistema produtivo de café especial e seus impactos sociais e econômicos no Sul de Minas

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