Por Odilon de Mattos Filho*
Não é novidade para ninguém que a primeira eleição do presidente Lula foi uma firme resposta dos brasileiros à política neoliberal adotada pelo governo FHC. É sabido, também, que houve uma espécie de concessão das elites para a governabilidade durante o primeiro mandato de Lula, o que não significou bondade, ao contrário, a classe dominante tinha certeza de que um mero metalúrgico não daria conta de governar o país e meteria os pés pelas mãos, porém, o tiro saiu pela culatra, Lula foi reeleito, encerrou os seus dois mandatos com aprovação em torno de 86% da população e fez a sua sucessora!
Mas o grande empresariado urbano e rural, o capital financeiro nacional e internacional, o sistema judiciário do país e os barões da mídia não aceitaram a derrota para um torneiro mecânico, em especial, a política adotada pelo seu governo que oportunizou a ascensão social de uma grande parcela da sociedade e frente a isso, não pestanejaram, partiram para cima do presidente Lula e de seu Partido o PT e o resultado todos nós o conhecemos: a presidenta Dilma foi injustamente deposta, o presidente Lula ilegalmente preso e a extrema-direita chega ao Poder e instaura um governo bonapartista cujo o resultado é um caos político, social e econômico poucas vezes visto no país.
Estamos a quatro meses de novas eleições e a elite brasileira em nada mudou, ao contrário, está cada vez mais reacionária e gananciosa e considerando esse fato e o momento político vivido no Brasil, esse pleito, seja talvez, o mais importante da história, pois, está claro que estamos diante de uma encruzilhada: democracia ou barbárie. De um lado, o ex-presidente Lula é a certeza da democracia e do outro, Bolsonaro é a certeza da continuidade e do recrudescimento da barbárie.
Muitos intelectuais, comentaristas políticos e até parte da esquerda brasileira, entendem que esse discurso de golpe, ou melhor, de autogolpe não passa de uma fantasia ou teoria da conspiração e para justificar esse entendimento alegam que não há clima para essa insurreição e muito menos as Forças Armadas se prestariam ou participariam dessa aventura junto com “capetão” que ocupa, provisoriamente, o Palácio da Alvorada.
Este modesto escriba é da turma que pensa diferente e entende que há fortes sinais de que o atual presidente, junto com as Forças Armadas e com apoio das elites conservadoras do país e de forças internacionais, vão tentar melar as eleições ou a posse do novo presidente, que certamente será o ex-presidente Lula.
Somos do entendimento que as falas do presidente da república questionando as urnas eletrônicas não são apenas bravatas para contagiar seus seguidores, ao contrário, isso já faz parte do plano para o autogolpe, não à toa que a camarilha do presidente composta por milicianos, pastores, parlamentares da base, militares e outros, estão dando eco e fortalecendo essa narrativa.
O senador Flávio Bolsonaro em entrevista ao jornal Estadão, já tentando eximir o pai de qualquer responsabilidade pelos caos passado ou futuro, disse que Jair Bolsonaro “não tem responsabilidade sobre atos de seus apoiadores” e projetando o futuro fez um paralelo com a invasão do Capitólio nos EUA afirmando:
“…como a gente tem controle sobre isso? No meu ponto de vista, o (Donald) Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá (invadir o Capitólio). As pessoas acompanharam os problemas no sistema eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram. Não teve um comando do presidente…Por isso, desde agora, ele [Bolsonaro] insiste para que as eleições ocorram sem o manto da desconfiança1“.
Recentemente o general Braga Neto, apontado como vice na chapa de Bolsonaro nas próximas eleições, também, como de costume, além de dá eco a essa narrativa teve o desplante de ameaçar a sociedade brasileira.
Segundo o Blog da jornalista Malu Gaspar, “empresários relataram à equipe da jornalista que Braga Netto afirmou que se não for feita a auditoria dos votos defendida pelo presidente, não tem eleição2”. Essa fala de Braga Netto, que estava acompanhado pelo general Pazuello, teria ocorrida no dia 24/06/2022, dois dias antes de ele ser oficializado como vice de Bolsonaro e teria causado grande constrangimento entre os empresários presentes no evento. Aliás, ao escolher o general Braga Neto, como seu vice, Bolsonaro radicaliza sua postura e o seu discurso e dá mais um sinal da pretensão de promover o autogolpe.
A propósito, comentando o papel das Forças Armadas e o falso discurso da insegurança das urnas, o presidente Lula foi preciso:
“…O papel das Forças Armadas não é cuidar de urna eletrônica. Quem tem que cuidar de urna eletrônica é a Justiça Eleitoral, quem tem que fiscalizar é a sociedade civil e quem tem que fazer as mudanças é o Congresso Nacional…O que eles querem na verdade é criar confusão, querem fazer a mesma coisa que o Trump fez nos EUA. Uma mentira contada mil vezes pode ganhar cara de verdade. Eles querem levantar a suspeita de que serão roubados nas eleições. Roubar eles roubaram em 2018, com as fake news. Roubar eles roubaram sendo eleito contando mentiras3“.
Não podemos perder de vista, também, que as Forças Armadas estão se lixando com o passado bandido de Bolsonaro no Exercito, pois, o que vale é o presente, são as benesses que o governo está gerando para os militares, especialmente, aqueles do alto escalão. Segundo levantamento do TCU existe hoje no governo federal 6.157 militares da ativa e da reserva distribuídos em mais de 240 cargos civis, isso significa o dobro do que existia no governo Temer. Junte-se a isso o fato de que dos 23 ministérios 08 são ocupados por militares e a maioria dos cargos estratégicos como as empresas públicas e os cargos do segundo e terceiros escalões estão, também, nas mãos dos milicos. E segundo noticiado dos 17 generais que formam o Alto Comando do Exército, 15 exercem cargos de primeira ordem. Há militares tanto na administração direta (Esplanada dos Ministérios), quanto nas empresas estatais, autarquias e órgãos de fiscalização. Evidente que os milicos não querem largar essa vaca de tetas grandes e generosas e vão fazer de tudo para não perdê-la, inclusive, participando, ativamente, de uma ruptura institucional, ademais, por mais paradoxal que pareça, a tutela militar já é uma realidade no país.
A propósito, sobre esse apego dos militares ao Poder, vale citar a entrevista do insuspeito Coronel da reserva, Marcelo Pimentel Jorge de Souza ao Site da BBC News Brasil que afirma:
“…são militares formados na AMAN nos anos 70, em plena ditadura – como o próprio Bolsonaro. São generais da reserva em sua maioria, mas também da ativa. É um grupo bastante coeso, hierarquizado, disciplinado, com algumas características autoritárias e pretensões de poder até hegemônicas. Sua finalidade é manter o poder conquistado4“, ´
Assim, não restam dúvidas do perigo que a nossa democracia está correndo, portanto, cabe às forças progressistas estarem atentas, pois, a classe dominante e a camarilha que cerca o atual governo, não vão deixar barato a volta da “esquerda” ao Poder, para tanto, dão claros sinais de que está em curso no país um projeto de ruptura institucional, ou seja, um autogolpe que pode levar o Brasil de volta aos tristes momentos do obscurantismo de outrora. Todo cuidado é pouco!
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1 Fonte: https://www.brasil247.com/brasil/flavio-bolsonaro-diz-que-sua-familia-nao-podera-ser-responsabilizada-por-caos-nas-eleicoes
2 Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/malu-gaspar/post/braga-netto-diz-empresarios-no-rio-que-sem-auditoria-dos-votos-nao-tem-eleicao.html
3 Fonte: https://www.brasil247.com/poder/papel-das-forcas-armadas-nao-e-cuidar-de-urna-eletronica-afirma-lula
4 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57447334
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* Odilon de Mattos Filho é Funcionário Público Municipal, Presidente do Partido dos Trabalhadores de Andrelândia/MG, cursou até último ano de Direito e está cursando Serviço Social. Contatos: [email protected] Telefone/ whatsapp: (35) 99180-0669. Blog do Autor: http://amidiaeapolitica.blogspot.com