Uma Epopeia Brasileira – A Coluna Prestes

Por Paulo Marçaioli.

O que segue é a resenha do livro “Uma Epopeia Brasileira: a Coluna Prestes” – Anita L. Prestes – Ed. Expressão popular 


O fenômeno do tenentismo representa basicamente a crise da República Velha no Brasil – envolve o descontentamento de setores de baixa patente das forças armadas nas primeiras décadas do século XX. Não raro os tenentes envolveram-se em conspirações e movimentos que tinham como norte a moralização do regime político, o voto secreto, eleições livres e respeito à constituição de 1891.

Anita Leocádia Prestes, historiadora e filha de Luís Carlos Prestes, relata-nos que existe uma vasta bibliografia sobre o movimento tenentista, não podendo se dizer o mesmo sobre sua expressão político-militar mais duradoura, a Coluna Prestes. Há explicações históricas evidentes: com o fim da coluna (não derrotada pelas forças governistas e seu exílio na Bolívia), tem-se a campanha de sucessão presidencial no Brasil, então governado por Washington Luiz.

O tenentismo, que foi um movimento político em certa medida caudatário das classes dominantes oposicionistas ao bernardismo, mostrou ser mais uma vez massa de manobra das frações da classe dominante dissidentes do Pacto “Café Com Leite” que dirigiam o país desde os primórdios da República. Assim, a candidatura da Aliança Liberal, com Getúlio Vargas concorrente à presidente, buscou atrair o impulso e o legado progressista do movimento tenentista. Muitos tenentes apoiaram não só a candidatura, como as movimentações que levariam à Revolução de 1930. Uma vez instalados no poder, passaria a não ser conveniente relatar um passado de participação de luta com armas em mão contra o poder instituído. Poucos participantes da coluna escreveram memórias e livros sobre sua experiência.

Seja como for, o evento merece ser ressaltado por sua magnitude. A Coluna, em seu momento de maior densidade, reuniu um contingente de 1,5 mil homens, percorreu 25 mil quilômetros através de 13 estados e derrotou 18 generais em batalhas. Introduziu a partir de técnicas inovadoras desconhecidas então a tática da “guerra de movimento”, enquanto os exércitos oficiais apenas conheciam “a guerra de posição”. A guerra de movimento de assemelha aos métodos de guerrilha com ataques em grupos pequenos que provocam a movimentação do inimigo numa direção e levam a fuga da guerrilha numa outra orientação, o que garantia a sobrevivência dos tenentes sempre em menor número e artilharia deficiente.prestes

Tal situação seria alterada de forma desfavorável aos rebeldes após o acordo feito entre as forças oficiais e coronéis de região do Nordestes que mobilizaram seus cangaceiros como uma forma de milícia particular para caçar a coluna. Coronéis e cangaceiros, com a benção de Padre Cícero, mobilizados para combater o que havia de mais progressivo naquele momento.

“Padre Cícero, famoso sacerdote de Juazeiro, mostrou-se solidário com o governo Ber
nardes e disposto a colaborar com os legalistas durante todo o período em que a Coluna Prestes marchou pelo nordeste. Quando os rebeldes já se encontravam em território pernambucano, o sacerdote concordou receber Lampião em Juazeiro e participou da cerimônia de concessão da patente de capitão do exército ao chefe cangaceiro, abençoando-o assim como os seus comandados. Nessa ocasião, eles receberam a missão de combater a coluna nos sertões nordestinos, dispondo de armas e munições fornecidas pelo ministro de guerra”. 

 Tenentismo e Classe Social 

Uma discussão interessante é que naquele período histórico a insatisfação com a corrupção na política bem como a disposição de pegar em armas para mudar o Brasil partira de setores médios da população – nossa classe operária era bastante incipiente e como o próprio Prestes relataria depois, os tenentes não observavam diferenças entre os estancieiros e os trabalhadores do campo, não se cogitando uma reforma agrária que poderia dar contornos revolucionária de massa à coluna.

É conhecida a fórmula de Lênin de que a situação revolucionária é o momento em que os “de baixo” não querem e os “de cima” não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfar. (LENIN, I. “Doença Infantil do Comunismo” Cap. 9).

Não existia por este critério uma situação plenamente revolucionária no Brasil dos anos 1920, mas uma crise potencialmente revolucionária que poderia ser engendrada com a entrada de cena de camponeses e trabalhadores. Mas a jovem oficialidade do exército e da marinha assumiu a liderança das oposições.

Já o movimento operário inclui uma número restrito da população apenas existindo em alguns cetros urbanos. E mesmo o PCB fundado em 1922 contava com uma débil organização e forte perseguição da polícia.

O encontro de Luiz Carlos Prestes com o marxismo se daria no exílio: a combinação entre o estudo da teoria e sua vivência observando a miséria do povo nos rincões mais distantes do país levaram-no a uma convicção tão inabalável no marxismo que assim permaneceu, sem capitulações, até a morte.

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