Por Leonardo Gütschow
As primeiras imagens que se vê de “Cabra Marcado para Morrer” são filmagens feitas pelo próprio Eduardo Coutinho durante a gravação de um longa com o mesmo nome que, porém, seria uma obra ficcional baseada na vida de João Pedro Teixeira, presidente e fundador do Sindicato dos agricultores de Sapé, na Paraiba, que foi morto em 1962 por dois policiais militares, e seu filme foi interrompido pelo Golpe Civil-Militar de 1964.
Quando Coutinho explica isso tudo, já se pensa “Será um documentário sobre o filme não acabado e a repressão dos militares”. Porém, o diretor escolhe um rumo diferente para o filme. Ele começa a dialogar sobre a vida de João Pedro, explicando sua luta no movimento sindical, operário, sua morte, a impunidade de seus assassinos, entre outras coisas relacionadas a sua vida política.
Logo em seguida disso, o foco do filme é contar a vida dos trabalhadores após o desligamento do filme, já que a maioria deles havia ajudado João Pedro e estava ajudando Coutinho a produzir o filme em 64. Ele reúne todos eles, com exceção de Elizabete Teixeira, esposa de João Pedro, pois a mesma ainda permanecia escondida por conta da perseguição que sofrera depois do golpe. A partir do momento em que se anuncia a importância de Elizabete no filme, a obra tem sua terceira curva narrativa.
A partir daí, o filme te conduz para duas perguntas: Onde está Elizabete e qual sua importância nisso tudo? O filme responde estas duas perguntas respectivamente. Primeiro desenvolve a separação dela e de seu marido e seus filhos. Depois mostra o porque de ser perseguida, respondendo a segunda questão.
Após o assassinato de João Pedro Teixeira, Elizabete começa a fazer protestos em memória a ele. Depois, mais tarde, pede a investigação de seus assassinos. Não suficiente, ela cresce ainda mais a pauta dos protestos, indo para violência no campo e a situação do campesinato em todo o sertão. As manifestações tomam tamanha força e proporção que, após o golpe, o governo achou necessário uma intervenção, praticamente caçando Elizabete por onde ela fosse. Sendo assim, teve que mudar de nome e deixar todos os seus onze filhos com famílias amigas.
Então, sendo assim, Coutinho não constrói um filme, mas três. O original “Cabra Marcado para Morrer”, falando da vida política de João Pedro Teixeira nos sindicatos, a situação dos trabalhadores do campo, usando de exemplo os trabalhadores de Sapé, e a vida de perseguida política de Elizabete Teixeira, que só queria justiça.
Esses três pilares fundamentais fazer com que a obra de Eduardo Coutinho aprofunde sobre a realidade brasileira de uma forma que nenhum outro documentário consegue com uma formula simples de fazer filmes, pois a realidade brasileira não é um filme, é o assassinato de João Pedro Teixeira.
O filme, na íntegra, pode ser assistido pelo link no Youtube.
3 comentários em “Resenha: Cabra Marcado para Morrer”
Melhor texto que eu já li na pasta de críticas desse site.
Muito Bom!
Bastante exclaressendo.