Por Javier, via Bitácora de Octubre, traduzido por Igor Galvão
Este ano completam 60 anos do triunfo da Revolução cubana em 1959. É por isso que hoje analisaremos brevemente a economia cubana entre 1959 e 1989, e em especial a época de maior bonança na história da ilha, dada entre 1970 e 1985.
A economia cubana entre 1959 e 1970 viveu um lento crescimento econômico, principalmente por conta do embargo econômico estadunidense e porque, até 1972 Cuba não se integrou em organização de cooperação econômica com países afins. O embargo comercial estadunidense impôs um grande impacto para a economia cubana, já que entre 1955 e 1958 cerca de 74% das exportações cubanas se destinavam aos Estados Unidos, enquanto que 73% das importações de Cuba vinham dos Estados Unidos. (Ritter, 1974).
Como se pode observar na seguinte tabela, a economia foi amplamente estatizada depois da Revolução:
Tabela 1: Participação do Estado nos distintos setores da economia cubana (1959-88)
1959 | 1961 | 1968 | 1988 | |
Agricultura | 0% | 37% | 74% | 97% |
Industria | 0% | 85% | 100% | 100% |
Construcción | 10%-20% | 80% | 100% | 100% |
Transporte | 15%-29% | 92% | 98% | 99% |
Comercio al por menor | 0% | 52% | 100% | 100% |
Comercio mayorista | 5%-10% | 100% | 100% | 100% |
Banca | 5%-10% | 100% | 100% | 100% |
Educación | 80% | 100% | 100% | 100% |
Fonte: Mesa-Lago et al. (2000).
Depois de 1970, Cuba experimentou um forte crescimento econômico até 1985, graças a sua adesão ao Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON) em 1972 e sua consequente integração econômica com os países socialistas.
Após 1989, Cuba sofreu um importante revés econômico. Em 1989, Cuba realizava 80% de seus intercâmbios comerciais com os países socialistas (CEPAL, 2000), é por isso que a dissolução do campo socialistas impôs um duro impacto para sua economia.
Os indicadores sociais
Os indicadores de saúde melhoraram em Cuba com a Revolução. Em 1958, a taxa de mortalidade infantil se situava em 55,4 a cada 1.000 nascidos, tendo em 1987 sido reduzida cinco vezes, situando-se em 11,1 a cada 1.000 nascidos (Cabello et al., 2012). A expectativa de vida também aumentou, sendo de 64 anos em 1958 e aumentando para 74,6 anos em 1987 (Cabello et al., 2012). A taxa de mortalidade materna era de 125,5 para cada 100.000 nascidos em 1958, tendo reduzido amplamente até 9,2 para cada 100.000 nascidos em 1987 (Cabello et al., 2012). O número de leitos em hospital aumentou de 4,5 pra cada 1.000 habitantes em 1958 para 5,3 para cada 1.000 habitantes em 1987 (Cabello et al., 2012). O número de médicos em 1958 era de 9,2 para cada 10.000 habitantes, e em 1987 de 55,1 para cada 10.000 habitantes (Cabello et al., 2012).
Os indicadores em educação também melhoraram consideravelmente. Em 1958 23,6% dos cubanos de 15 anos ou mais eram analfabetos, para em 1989 graças em especial a campanha de alfabetização de 1961, 99,2% dos adultos de 15 anos ou mais estavam alfabetizados em Cuba. As taxas de matrícula em 1958 era de 54% na educação primaria, 29% na secundária e 4% na educação de nível superior, enquanto em 1989 essa cifra havia aumentado para 92%, 70,3% e 25% respectivamente. Os anos médios de escolaridade eram de 3,5 anos em 1958, sendo em 1989 aumentado para 7,8 anos. A porcentagem de estudantes que alcançavam o quinto grau era apenas 3,5% em 1958, subindo para incríveis 99% no ano de 1989. A porcentagem da população com estudos universitários aumentou de 0,8% em 1958 para 5% em 1989 (Cabello et al., 2012).
A sociedade cubana antes da Revolução era extremamente desigual. O coeficiente de Gini de Cuba era de 0,55 em 1953, sendo reduzido para mais da metade em 1986, com a cifra de 0,22. Em 1953, 40% dos domicílios mais pobres possuíam apenas 6,5% da riqueza total do país, enquanto em 1986 essa porcentagem aumentou até 26% (Brundenius, 2009).
A produção de eletricidade passou de 2.550,4 GWh em 1958 para 15.024,7 GWh em 1990 (CEPAL, 2000).
Foram criados numerosos programas de habitação públicas como este em Alamar.
Desempenho econômico
A economia durante a ditadura de Fulgencio Batista crescia a um ritmo relativamente lento, a taxa de crescimento anual do produto interno bruto (PIB) per capita real no período compreendido entre 1952 e 1958 foi de 0,45% (Maddison Historical Statistics Project, 2018).
Gráfico 1: Crescimento econômico da América Latina (1970-1958):
Fonte: Maddison Historical Statistics Project (2018).
Cuba em 1970 possuía um PIB per capita real inferior ao Chile, Colombia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Peru, Nicarágua e El Salvador, para em 1985 ter um superior ao desses países. Dessa maneira, Cuba passou a se situar dentro dos 21 países da América Latina em 1970 no posto 16 em relação ao PIB per capita real, para subir até a oitava posição em 1985.
Tabela 2: Desempenho Econômico na América Latina (1970-1985):
PIB per capita real em dólares estadounidenses constantes de 2011 (1970) | PIB per capita real em dólares estadounidenses constantes de 2011 (1985) | Taixa de crescimento anual do PIB per capita real (1970-1985) | |
Argentina | 12.826$ | 12.006$ | -0,44% |
Bolívia | 3.661$ | 3.668$ | 0,01% |
Brasil | 6.005$ | 10.185$ | 3,58% |
Chile | 7.146$ | 6.998$ | -0,14% |
Colômbia | 4.908$ | 6.775$ | 2,17% |
Costa Rica | 5.802$ | 6.709$ | 0,97% |
Cuba | 4.335$ | 7.455$ | 3,68% |
República Dominicana | 3.630$ | 5.328$ | 2,59% |
Equador | 5.245$ | 7.440$ | 2,36% |
Guatemala | 4.455$ | 5.067$ | 0,86% |
Honduras | 2.821$ | 3.520$ | 1,49% |
Haiti | 2.174$ | 2.463$ | 0,84% |
México | 8.184$ | 11.652$ | 2,38% |
Nicarágua | 6.475$ | 4.507$ | -2,39% |
Panamá | 5.437$ | 7.845$ | 2,47% |
Peru | 6.496$ | 6.178$ | -0,33% |
Porto Rico | 14.043$ | 18.525$ | 1,86% |
Paraguay | 3.021$ | 5.343$ | 3,87% |
El Salvador | 4.831$ | 4.664$ | -0,23% |
Uruguay | 7.892$ | 8.748$ | 0,69% |
Venezuela | 17.247$ | 14.969$ | -0,94% |
Fonte: Maddison Historical Statistics Project (2018).
O mito da ajuda soviética
Geralmente se argumenta que o bom desempenho de Cuba em matéria econômica entre 1970 e 1985 se deve à ajuda soviética. Contudo, a ajuda soviética a Cuba em termos per capita era inferior em alguns casos à quantidade de ajuda ocidental à países latino americanos, por exemplo, Porto Rico em 1983 recebia 3,34 vezes mais ajuda per capita dos Estados Unidos que a que Cuba recebia da União Soviética nesse mesmo ano (Zimbalist y Brundenius, 1989). Ainda assim, apesar das ajudas, Porto Rico logrou um desempenho inferior a Cuba tanto no plano econômico quanto no plano social (Zimbalist y Brundenius, 1989).
Aproximadamente 68,3% da ajuda soviética a Cuba em 1983 era o subsídio do preço do açúcar. Sendo os subsídios a principal ajuda a Cuba por parte da URSS, devemos prestar atenção em qual é a metodologia adotada para calcular suas magnitudes, já que segundo Zimbalist e Brundenius (1989) contém numerosos erros. As principais estimativas são da Agencia Central de Inteligência (CIA), que utilizava o tipo de cambio oficial entre o dólar e o peso, o que provocava uma supervalorização do peso e, consequentemente, da ajuda soviética. (Zimbalist y Brundenius, 1989). Por outro lado, a CIA assumia que os subsídios eram a diferença entre o preço pagado pelos soviéticos pelo açúcar cubano e o preço de mercado, contudo, apenas 14% do açúcar mundial era vendido ao preço de mercado (Zimbalist y Brundenius, 1989). Se tivessem usado os preços estadunidenses, país ao qual Cuba exportava a maioria do seu açúcar antes do embargo comercial estadounidense e cujos preços eram superiores aos preços do mercado mundial, a soma dos subsídios era consideravelmente menor (Zimbalist y Brundenius, 1989).
Bibliografia:
Cabello, J. J. et al. (2012). An Approach To Sustainable Development: The Case Of Cuba. Environment, Development and Sustainability, 14 (4), pp. 573-591.
Brundenius, C. (2009). Revolutionary Cuba at 50: Growth with Equity Revisited. Latin American Perspectives, 36 (2), pp. 31-48.
Comisión Económica para América Latina CEPAL (2000). La economía cubana: Reformas estructurales y desempeño en los noventa. México, D. F.: Fondo de Cultura Económica de México.
Zimbalist, A. y Brundenius, C. (1989). The Cuban Economy: Measurement and Analysis of Socialist Performance. Baltimore, Maryland: Johns Hopkins University Press.
Mesa-Lago, C. et al. (2000). Market Socialist and Mixed Economies: Comparative performance of Chile, Cuba and Costa Rica. Baltimore, Maryland: Johns Hopkins Press.
Ritter, A. R. M. (1974). The Economic Development of Revolutionary Cuba: Strategy and Performance. New York, N. Y.: Praeger.