Necrocapitalismo: ensaio sobre como nos matam, por Gabriel Miranda

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Neste instigante ensaio, somos convidados a uma revisão crítica do conceito de necropolítica, pelo qual se tornou conhecido o pensamento do filósofo camaronês Achille Mbembe. Gabriel Miranda lança luz sobre as origens teóricas e empíricas do termo, sua proposta inicial e suas principais lacunas. Assim, dando um passo em relação à proposição de Mbembe, o ensaio propõe a crítica ao necrocapitalismo como o ponto de partida para uma exposição do caráter sistêmico da produção da morte – que, sob o capitalismo, atingiu um ritmo e uma escala industrial!

“Com isso, não se está a dizer que Achille Mbembe é um defensor ferrenho do capitalismo – o que me parece um completo absurdo. Mas o modo como o autor camaronês desenvolve as suas ideias no ensaio Necropolítica faz parecer que não é a sociabilidade burguesa que funda – ou, se não funda, sustenta – a denominada política de morte que ele apresenta. Como não se percebe expressamente uma perspectiva de superação da sociabilidade burguesa na referida obra, esta leva a crer que o modo de produção capitalista não é um problema em si mesmo, mas um elemento disfuncional que, com os ajustes necessários, poderá deixar de promover a morte daqueles muitos que encontram suas garras gélidas. A crítica ao neoliberalismo, para alcançar a sua potência máxima, deve vir acompanhada da crítica e de um projeto de superação do próprio capitalismo.

Ora, em outros de seus textos, o autor camaronês se remete, de forma criativa, a vários dos problemas provocados pelo capitalismo neoliberal, como a difusão do ideário meritocrático, a precarização das relações de trabalho, o uso de novas tecnologias como recurso para potencializar a exploração dos sujeitos e o alargamento das práticas de exceção (Mbembe, 2018; 2020). E é óbvio que o capitalismo neoliberal representa um estágio cruel do capitalismo. Mas qual forma de capitalismo não é cruel?

Ora, retirar o caráter neoliberal do capitalismo não é, de forma alguma, a medida necessária para superar os grilhões da modernidade. Embora um seja mais amargo que o outro, o remédio neoliberal e o remédio keynesiano são, ambos, formas de gerir o modo de produção capitalista e mantê-lo vivo. Sendo assim, defendo que, para resgatar o potencial crítico da obra de Mbembe, é necessário adicionar a ela uma boa dose de Marx, a quem o autor camaronês parece não simpatizar muito, tendo em vista que, mesmo em um curto artigo como Necropolítica, encontrou espaço para apresentar uma visão descuidada – para dizer o mínimo – acerca de pontos nevrálgicos da obra marxiana.

Tal antipatia em relação à obra marxiana e ao legado marxista parece ter sido herdada de Hannah Arendt, tendo em vista que algumas das críticas endereçadas por Mbembe a Marx já haviam sido expostas anteriormente pela filósofa teuto-estadunidense. Por exemplo, a confusão que Mbembe acusa Marx de fazer em relação ao conceito de trabalho já havia sido apontada anteriormente por Arendt (2007) no livro A condição humana, assim como a aversão à violência revolucionária e à experiência soviética – colocada lado a lado com o nazismo –, presente no texto de Mbembe, também é marca do pensamento arendtiano (Arendt, 2012).

No que concerne ao débito mbembiano em relação à violência do oprimido – ou à violência revolucionária, recorrentemente apontada sob a pecha de “terror” no ensaio Necropolítica –, Achille Mbembe, que, no conjunto de sua obra, se coloca como um crítico do liberalismo, parece cair na armadilha liberal de atribuir um caráter voluntarista à ação da classe subalterna que, por meio da violência, busca se libertar da dominação. Com isso, ignora a violência presente, seja nas relações sociais que levaram à eclosão da Revolução Francesa, seja nas relações sociais capitalistas. Aqui, mais uma vez, sente-se a ausência da perspectiva marxiana, que compreende a realidade a partir do conflito. Conflito este que torna a reação violenta do oprimido uma tarefa histórica, inclusive para superar a(s) necropolítica(s).”


Autor: Gabriel Miranda
Prefácio: Gabriel Miranda
Revisão:
Amanda Tracera
Número de páginas: 124 páginas
Edição: 2021
Capa: Bruno Santana

Descrição

Neste instigante ensaio, somos convidados a uma revisão crítica do conceito de necropolítica, pelo qual se tornou conhecido o pensamento do filósofo camaronês Achille Mbembe. Gabriel Miranda lança luz sobre as origens teóricas e empíricas do termo, sua proposta inicial e suas principais lacunas. Assim, dando um passo em relação à proposição de Mbembe, o ensaio propõe a crítica ao necrocapitalismo como o ponto de partida para uma exposição do caráter sistêmico da produção da morte – que, sob o capitalismo, atingiu um ritmo e uma escala industrial!

“Com isso, não se está a dizer que Achille Mbembe é um defensor ferrenho do capitalismo – o que me parece um completo absurdo. Mas o modo como o autor camaronês desenvolve as suas ideias no ensaio Necropolítica faz parecer que não é a sociabilidade burguesa que funda – ou, se não funda, sustenta – a denominada política de morte que ele apresenta. Como não se percebe expressamente uma perspectiva de superação da sociabilidade burguesa na referida obra, esta leva a crer que o modo de produção capitalista não é um problema em si mesmo, mas um elemento disfuncional que, com os ajustes necessários, poderá deixar de promover a morte daqueles muitos que encontram suas garras gélidas. A crítica ao neoliberalismo, para alcançar a sua potência máxima, deve vir acompanhada da crítica e de um projeto de superação do próprio capitalismo.

Ora, em outros de seus textos, o autor camaronês se remete, de forma criativa, a vários dos problemas provocados pelo capitalismo neoliberal, como a difusão do ideário meritocrático, a precarização das relações de trabalho, o uso de novas tecnologias como recurso para potencializar a exploração dos sujeitos e o alargamento das práticas de exceção (Mbembe, 2018; 2020). E é óbvio que o capitalismo neoliberal representa um estágio cruel do capitalismo. Mas qual forma de capitalismo não é cruel?

Ora, retirar o caráter neoliberal do capitalismo não é, de forma alguma, a medida necessária para superar os grilhões da modernidade. Embora um seja mais amargo que o outro, o remédio neoliberal e o remédio keynesiano são, ambos, formas de gerir o modo de produção capitalista e mantê-lo vivo. Sendo assim, defendo que, para resgatar o potencial crítico da obra de Mbembe, é necessário adicionar a ela uma boa dose de Marx, a quem o autor camaronês parece não simpatizar muito, tendo em vista que, mesmo em um curto artigo como Necropolítica, encontrou espaço para apresentar uma visão descuidada – para dizer o mínimo – acerca de pontos nevrálgicos da obra marxiana.

Tal antipatia em relação à obra marxiana e ao legado marxista parece ter sido herdada de Hannah Arendt, tendo em vista que algumas das críticas endereçadas por Mbembe a Marx já haviam sido expostas anteriormente pela filósofa teuto-estadunidense. Por exemplo, a confusão que Mbembe acusa Marx de fazer em relação ao conceito de trabalho já havia sido apontada anteriormente por Arendt (2007) no livro A condição humana, assim como a aversão à violência revolucionária e à experiência soviética – colocada lado a lado com o nazismo –, presente no texto de Mbembe, também é marca do pensamento arendtiano (Arendt, 2012).

No que concerne ao débito mbembiano em relação à violência do oprimido – ou à violência revolucionária, recorrentemente apontada sob a pecha de “terror” no ensaio Necropolítica –, Achille Mbembe, que, no conjunto de sua obra, se coloca como um crítico do liberalismo, parece cair na armadilha liberal de atribuir um caráter voluntarista à ação da classe subalterna que, por meio da violência, busca se libertar da dominação. Com isso, ignora a violência presente, seja nas relações sociais que levaram à eclosão da Revolução Francesa, seja nas relações sociais capitalistas. Aqui, mais uma vez, sente-se a ausência da perspectiva marxiana, que compreende a realidade a partir do conflito. Conflito este que torna a reação violenta do oprimido uma tarefa histórica, inclusive para superar a(s) necropolítica(s).”


Autor: Gabriel Miranda
Prefácio: Gabriel Miranda
Revisão:
Amanda Tracera
Número de páginas: 124 páginas
Edição: 2021
Capa: Bruno Santana

Informação adicional

Peso 0.230 kg
Dimensões 12 × 17 × 2 cm

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