Por uma polarização democrática: Como puxar o tapete do populismo de direita?

Entrevista com Via Social Europe, traduzido por Felipe Kantor

Jürgen Habermas é um conhecido sociólogo que integra a renomada Escola de Frankfurt de Teoria Crítica. Tido como um dos expoentes da segunda geração da escola, o mesmo busca articulações para discutir o neoliberalismo, a globalização e política partidária. Nesta entrevista, temos o pensador articulando  a progressão agressiva do populismo de direita e temas relacionados, como por exemplo, Brexit, a eleição de Donald Trump e o avanço reacionário na contemporaneidade. Encontramos aqui uma breve articulação sobre os rumos, não uma receita para a solução.


David Gow: Após 1989, toda conversa era sobre o “fim da História” na democracia e na economia de mercado, e hoje estamos experimentando o aparecimento de um novo fenômeno na forma de uma liderança autoritária/populista – de Putin via Erdogan a Donald Trump.
Claramente, uma nova “internacional autoritária” está obtendo cada vez mais sucesso em definir o discurso político. Estava seu exato contemporâneo Ralf Dahrendorf certo ao prenunciar um século XXI autoritário? Pode alguém, na verdade, deve alguém falar de uma mudança épica?

: Após a transformação de 1989-90, quando Fukuyama se aproveitou do slogan da “pós-história” cunhado originalmente dentro de um tipo feroz de conservadorismo, sua reinterpretação expressou o triunfalismo míope das elites ocidentais, que aderiram à crença liberal da harmonia pré-estabelecida da economia de mercado e da democracia. Ambos elementos informam a dinâmica de modernização social, mas estão conectadas a imperativos funcionais que repetidamente se chocam. A troca entre o crescimento capitalista e a parcela do povo – somente aceita vagamente como socialmente justa – no crescimento de economias altamente produtivas poderia apenas ser trazido à tona por um estado democrático merecedor deste nome. Tal equilíbrio, que garante o nome de “democracia capitalista” era, todavia, dentro de uma perspectiva histórica, da exceção mais do que da regra. Isso sozinho deu a ideia de uma consolidação global do “sonho americano” como uma ilusão.

A nova desordem global, o desamparo dos EUA e da Europa no que diz respeito aos crescentes conflitos internacionais, é profundamente perturbador, e as catástrofes humanitárias na Síria e ao sul do Sudão nos irritam tanto quanto os atos de terror islâmicos. Ainda assim, não posso reconhecer na constelação que indicou uma tendência uniforme na direção de um novo autoritarismo mas, ao invés disso, uma variedade de causas estruturais e muitas coincidências. O que as une é o teclado de nacionalismo e isto tem começado a tocar neste meio tempo no Ocidente. Mesmo antes de Putin e Erdogan, Rússia e Turquia não eram mais “democracias imaculadas”. Se o Ocidente tivesse perseguido uma política de algum modo mais esperta, poderia ter-se estabelecido o curso de relações com ambos os países diferentemente – e forças liberais em suas populações poderiam ter sido fortalecidas.

DG: Não estamos superestimando as capacidades do ocidente de maneira retrospectiva aqui?

JH: Claro, dado a pura variedade de seus interesses divergentes, não teria sido fácil para “o Ocidente” ter escolhido o momento certo para lidar racionalmente com as aspirações geopolíticas de uma superpotência russa exilada ou com as expectativas europeias de um governo turco rabugento. O caso do egomaníaco Trump, altamente significativo para o todo dito Ocidente, é de uma ordem diferente. Com sua desastrosa campanha eleitoral, ele está encabeçando um processo de polarização que os Republicanos têm fomentado com um cálculo frio desde os anos 1990, e estão intensificando tão inescrupulosamente que o “Grande Velho Partido”, o partido de Abraham Lincoln, não esqueça, perdeu completamente o controle de seu movimento. Esta mobilização de ressentimento está dando vazão para os deslocamentos sociais de uma superpotência em declínio político e econômico.

O que vejo, portanto, como problemático não é o modelo de uma Internacional autoritária que você hipotetiza, mas a quebra da estabilidade política em nossos países como um todo. Em qualquer julgamento da retirada dos EUA de seu papel como poder global sempre prontos a intervirem para a restauração da ordem, deve-se manter os olhos no pano de fundo estrutural – um que está afetando a Europa de uma maneira similar.

A globalização econômica que Washington inseriu na década de 1970 com sua agenda neoliberal trouxe em seu despertar, medido globalmente em relação à China e os outros países emergentes do BRIC, um relativo declínio do Ocidente. Nossas sociedades devem trabalhar domesticamente a conscientização deste declínio global junto com o crescimento explosivo e tecnologicamente induzido na complexidade da vida cotidiana. Reações nacionalistas estão ganhando terreno nestes meios sociais que nunca ou de forma inadequada têm se beneficiado de ganhos prósperos das grandes economias, porque a eterna promessa da “teoria do fomento indireto” falhou em sua materialização ao longo das décadas.

DG: Mesmo se não houver uma tendência inequívoca de um novo autoritarismo, estamos obviamente passando por um enorme deslocamento para a Direita, de fato uma revolta de Direita. E a campanha pró Brexit era apenas o exemplo mais proeminente deste rumo na Europa. Você mesmo, como recentemente assinalou, “não considerou como uma vitória do populismo sobre o capitalismo em seu país de origem”. Cada observador sensato não pode ter sido outra coisa a não ser atingido pela óbvia natureza irracional não apenas do resultado deste voto, mas da própria campanha. Uma coisa é clara: a Europa é cada vez mais também vítima de um populismo sedutor, de Orban e Kaczynski a Le Pen e AfD[1]. Isto significa que estamos passando por um período de realização de uma política irracional como norma no Ocidente? Algumas partes da Esquerda já estão formando uma defesa para reagir ao populismo de direita com uma versão da esquerda do mesmo.

JH: Antes de reagir puramente de modo tático, o quebra-cabeça deve ser resolvido sobre como chegou-se ao ponto do populismo de direita roubar os próprios temas da esquerda. A última cúpula do G-20 entregou uma peça instrutiva de teatro a este respeito. Uma leitura do alarme da reunião dos chefes de governo sobre o “perigo da Direita” que pode levar os estado-nações a fecharem suas portas, fecharem as portas e destruirem os mercados globais. Este temperamento abarca a espantosa mudança em políticas sociais e econômicas que um dos participantes, Theresa May, anunciou na última conferência do partido Conservador e que causou ondas de raiva como era esperado na mídia pró-empresariado. Obviamente, a primeira-ministra britânica estudou a fundo os motivos sociais para o Brexit; em todo caso, ela está tentando tomar o vento das velas do populismo de direita ao reverter a linha anterior do partido e dar valor a um “estado forte” intervencionista para que se combata a marginalização das partes “deixadas para trás” da população e as cada vez maiores divisões dentro da sociedade. Dada esta inversão irônica da agenda política, a esquerda na Europa deve se perguntar por que o populismo de direita está conseguindo ganhar os oprimidos e em desvantagem através do falso caminho do isolamento nacional.

DG: Como deveria se parecer uma resposta da esquerda para o desafio da direita?

JH: A questão é porque os partidos de esquerda não partem para a ofensiva contra a desigualdade social embarcando em uma domação coordenada e transfronteira dos mercados desregulados. Como uma alternativa sensata – tanto para o status quo do capitalismo financeiro selvagem como para a agenda de um “völkisch” ou recuo da esquerda nacionalista para a suposta soberania dos já antigos estados-nação esburacados – eu sugeriria que há apenas uma maneira de cooperação supranacional que busque o objetivo de dar forma a uma reconfiguração política socialmente aceitável da globalização econômica. Regimes de tratados internacionais são insuficientes aqui; pois, deixando de lado completamente suas legitimidades democráticas duvidosas, decisões políticas sobre questões de distribuição podem apenas ser feitas dentro de uma estrutura de trabalho institucional estrita. Isto deixa apenas um caminho empedrado para um aprofundamento e incorporação institucional de cooperação democraticamente legítima que transpassa fronteiras nacionais. A União Europeia foi certa vez tal projeto – e uma União Política da Eurozona poderia ainda ser um. Porém, os obstáculos dentro do processo de tomada de decisão doméstico são especialmente altos para isso.

Desde Clinton, Blair e Schröder, social-democratas têm influenciado decisivamente na linha prevalecente neoliberal em políticas econômicas porque isto era ou parecia ser promissor no sentido político: na “batalha pelo meio termo” estes partidos políticos pensaram que poderiam ganhar as maiorias apenas por adotarem este curso de ação neoliberal. Isto significou abarcar a tolerância de desigualdades sociais crescentes e de longa data. Nesse entremeio, o preço – o “deixar ao léu” econômico e sociocultural das sempre grande partes do povo – claramente aumentou de tal forma que a reação para isto foi a de ir para a direita. E para onde mais? Se não há perspectiva credível e proativa, então o protesto simplesmente recua para formas expressivistas e irracionais.

DG: Ainda pior pois os populistas de direita apareceriam como “passíveis de contágio” dentro de partidos estabelecidos – e, de fato, por toda a Europa. Sob pressão da Direita, a nova primeira-ministra da Grã-Bretanha tem adotado uma política linha-dura de detenção ou mesmo expulsão de trabalhadores estrangeiros e migrantes; na Áustria, o chefe de governo social-democrata quer restringir o direito de asilo através de um decreto de emergência – e na França, François Hollande tem governado por quase um ano já em um estado de emergência, para a alegria da Front National[2]. A Europa está mesmo alerta para esta revolta de direita ou as realizações republicanas estão sendo corroídas de forma irreversível?

JH: Em minha estimativa, os políticos domésticos lidaram de forma errada com o populismo de direita desde o início. O erro dos partidos já estabelecidos está em reconhecer o campo de batalha que o populismo de direita está definindo: “Nós” contra o sistema. Aqui pouco importa se este erro toma a forma de uma assimilação de ou um confronto com a “direita”. Pegue tanto o estridente e quase presidente francês Nicolas Sarkozy, que está ultrapassando Marine Le Pen com suas exigências, ou o exemplo do ponderado ministro da justiça alemão Heiko Maas, que forçosamente enfrenta Alexander Gauland em debate – ambos deixam o oponente mais forte. Ambos levam-no/na a sério e engrandecem seu perfil. Já há um ano todos nós aqui na Alemanha conhecemos o largo sorriso estudiosamente irônico de Frauke Petry (líder do AfD) e a conduta do resto da liderança de sua gangue sinistra. É apenas por ignorar suas intervenções que alguém pode puxar o tapete dos populistas de direita.

Todavia, isto requer estar disposto a se abrir a um fronte completamente diferente na política doméstica, e fazer isso tornando o problema mencionado acima, a principal questão candente: Como recuperar a iniciativa política vis-à-vis à forças destrutivas da globalização capitalista desencadeada? Ao invés disso, o cenário político está predominantemente marcado em diferentes tons de cinza de maneira que, por exemplo, a agenda da esquerda pró-globalização de dar um formato político a uma sociedade global, crescendo juntos economicamente e digitalmente, não pode mais ser distinguida da agenda neoliberal de abdicação política ao poder chantagista dos bancos e dos mercados desregulados.

Alguém então teria que tornar programas políticos contrastantes reconhecíveis novamente, incluindo o contraste entre a – em um sentido político e cultural – mente aberta “liberal” da esquerda, e o abafamento nativista das críticas de direita de uma globalização econômica desenfreada. Em uma palavra: a polarização política deveria ser recristalizada entre os partidos estabelecidos em conflitos substantivos. Partidos que garantem atenção aos populistas de direita mais do que o desprezo não deveriam esperar que a sociedade civil despreze frases e violência da direita. Portanto, considero como o maior perigo uma polarização bastante diferente, na direção da qual a oposição hardcore dentro do CDU[3] está se movendo quando lança um olhar cauteloso no período pós-Merkel. É em Alexander Gauland que ele reconhece outra vez a figura fundamental da ala Dregger[4], da velha CDU de Hesse, ou o sangue de seu próprio sangue, e brinca com a ideia de recuperar eleitores perdidos através de uma coalizão com o AfD.

DG: Mesmo verbalmente, muito parece ser uma confusão total. Políticos são mais e com mais frequência denunciados como “inimigos do povo” e abusados abertamente. Alexander Gauland chama Angela Merkel de uma “chanceler ditadora”. Na mesma linha vai a reabilitação gradual do “Wöterbuch des Unmenschen” (dicionário de jargão nazista): Frauke Petry[5] quer trazer de volta ao discurso cotidiano o conceito de “völkisch”, Björn Höcke[6] fala de “entartete Politik” (“política degenerada”) e, depois disso, uma mulher do CDU da Saxônia membra do parlamento cai na clássica fala nazista do “Umvolkung” (desalemanização) – e tudo isso sem qualquer consequência.

JH: A única lição que os partidos democráticos deveriam tirar a respeito de lidar com pessoas que são afiadas em tais termos é: elas deveriam parar de ficar com ressalvas com estes “cidadãos preocupados” e dispensá-los bruscamente por aquilo que são – o local de gestação de um novo fascismo. Ao invés disso, testemunhamos repetidamente o ritual cômico, bem praticado na velha (pré-1990) república federal, de um ato compulsório que visa balancear a situação: Toda vez que a conversa sobre “extremismo de direita” é inevitável, políticos se sentem obrigados a apontar apressadamente para um “extremismo de esquerda” correspondente, como se tivessem que fugir do vexame.

DG: Como você explica as suscetibilidade ao populismo de direita da AfD na Alemanha oriental e a guinada das ofensas da Extrema Direita?

JH: Deveria-se, claro, não se ter ilusões sobre o forte sucesso eleitoral da AfD também nas partes ocidentais da Alemanha, como demonstrado pelos resultados da última eleição em Baden-Württemberg – mesmo se os afetos agressivos do senhor Meuthen (da AfD) contra o legado da esquerda-liberal da geração de 68 deixem que alguém suponha não a mentalidade de um extremista de direita, mas a disposição de que há muito tempo pertence àquela velha república federal. No ocidente, os preconceitos de direita dos eleitores da AfD parecem ter sido filtrados em sua parte principal através de um meio social conservador que não teve oportunidade para se desenvolver na antiga RDA. Na conta do ocidente também estão aqueles ativistas de direita que, logo após as reviravoltas dos anos 1990, foram da velha república federal ao leste em manadas e trouxeram as capacidades organizacionais requeridas. Todavia, julgando pelos amplamente conhecidos dados estatísticos, uma vulnerabilidade “não filtrada” aos preconceitos autoritários rodopiantes e às “velhas continuidades” é definitivamente maior na Alemanha ocidental. Enquanto este potencial emerge de antigos não-eleitores, isso poderia permanecer mais ou menos discreto até a catalização de nossa recente política de refugiados: Até então, estes eleitores tinham sido atraídos tanto pela percepção politicamente parcial e pela boa vontade nacional do CDU Oriental quanto capturado em grande parte pelo partido da “Esquerda”. Até certo ponto aquilo pode ter servido a uma boa causa. Porém, é melhor para um corpo político democrático quando mentalidades políticas questionáveis não são varridas para debaixo do tapete a longo prazo.

Por outro lado, o ocidente, isto é, o antigo governo da Alemanha Ocidental, que definiu o modo de reunificação e reconstrução na época e que agora carrega a responsabilidade política pelas consequências, pode muito bem acabar segurando a criança em vista de como a história julga estes fatos. Ao passo que o povo da antiga Alemanha Ocidental aproveitou a oportunidade de boas condições econômicas para gradualmente se libertar de discussões públicas de décadas sobre o legado do período nazista, de mentalidades contaminadas e a continuidade das elites no governo, a população do antigo RDA não teve oportunidade após 1990 de ser capaz de se comprometer com seus próprios erros e ser forçada a aprender ao se defrontar com seu passado nazista.

DG: Quando se diz respeito a políticas federais, o AfD tem forçado a União (CDU/CSU) acima de tudo a um tumulto estratégico. Recentemente, portanto, políticos do CDU e do CSU[7] esboçaram um “Aufruf” (missão) para um “Leitkultur”, o slogan político de preservação de uma estrutura cultural herdada, com a intenção de parar com a “entrega do patriotismo para as pessoas erradas”. Você lê lá: “A Alemanha tem o direito de estipular o que deveria ser auto-evidente”. “Enraizamento em uma terra-natal carinhosamente adotada e experiências diárias de patriotismo” devem ser promovidos. Na (velha) república federal, no despertar de aceitação crescente da democracia, a Lei Fundamental[8] agiu cada vez mais como o núcleo cultural e seu reconhecimento se tornou o parâmetro para integração bem-sucedida. Hoje em dia, estamos experimentando a transição desta cultura nuclear constitucional-patriota para uma nova cultura alemã mainstream feita de hábitos e costumes, como um dever de dar as mãos ao se cumprimentar alguém?

JH: Nós obviamente assumimos muito precipitadamente que o CDU de Merkel deixou os interiores do debate dos anos 1990 para trás. A política de refugiados trouxe à superfície uma oposição interna que combina os descendentes da ala nacional-conservadora do velho CDU/CSU federal com os convertidos do CDU-Leste. Seu “Aufruf” marca o ponto de quebra no qual o CDU iria se desfazer como um partido, caso forçado a decidir entre duas opções políticas: organizar a integração dos refugiados ou em acordo com padrões constitucionais ou em acordo com a ideias da maioria cultural nacional. A constituição democrática de uma sociedade pluralista fornece direitos culturais para minorias de que forma que estes ganhem a possibilidade de continuar sua própria maneira de viver cultural dentro dos limites de lei da terra. Portanto, uma política de integração constitucional é incompatível com as obrigações legais sobre os imigrantes de uma origem diferente de serem sujeitos a um estilo de vida em uma maioria cultural totalmente inclusiva. Mais do que isso, exige a diferenciação entre a maioria cultural enraizada no país e a cultura política abrangendo todos os cidadãos igualmente.

Esta cultura política ainda é, todavia, definida por como os cidadãos e suas interpretações de princípios constitucionais se aproveitam dos contextos históricos do país. A sociedade civil deve esperar dos cidadãos imigrantes – sem ter a capacidade de forçar legalmente – que cresçam nesta cultura política. Aqui o relatório que Navid Kermani, um cidadão alemão de origem iraniana, publicado no Der Spiegel sobre sua visita ao antigo campo de concentração em Auschwitz é um exemplo comovente e iluminador: na mistura linguística de visitantes de diversos países, ele optou por se juntar ao grupo silencioso de alemães, os descendentes da geração de perpetradores. Não foi de jeito algum a linguagem alemã do grupo que o levou a agir como tal.

Dado o fato de que a cultura política não ficará parada diante de uma cultura democrática de debate viva, os cidadãos recém-chegados, por outro lado, aproveitam tanto quanto aqueles já longamente estabelecidos o direito de trazerem sua própria voz no processo de desenvolver e mudar esta cultura política comum. O poder definidor dessas vozes é melhor exemplificado por nós pelos bem-sucedidos escritores, atores, jornalistas e cientistas das famílias de antigos “trabalhadores convidados” turcos. Tentativas de conservar legalmente um núcleo nacional cultural não são apenas inconstitucionais, mas irreais.

DG: Em sua última entrevista, na Die Zeit de 7 de julho, você, como um “leitor de jornal engajado de longa data”, criticou uma “certa cumplicidade da Mídia”, sem a qual “a política de encobrimento de Merkel de causar tediosamente o sono” teria sido incapaz de se espalhar pelo território. Claramente, desde a política de refugiados da Merkel, estamos experimentando uma nova polarização. Você enxerga alguma chance nisto de finalmente pensar em alternativas políticas?

JH: Dada a fixação da AfD prefiro temer um nivelamento posterior das diferenças entre outros partidos. Quando falei sobre a política de acalmar todo mundo até dormir, estava falando sobre a Europa. A respeito do futuro da União Europeia, nada mudou desde o Brexit. Lê-se, por exemplo, virtualmente nada sobre a escalada renovada do conflito entre o ministro de finanças Schäuble e o FMI, que acabou com o programa de auxílio à Grécia. Sem uma iniciativa de mudar a política incapacitante de cortes de gastos, a prontidão dentro da Europa pela cooperação irá igualmente falhar em desenvolver outras áreas de regulamentação.

Wolfgang Schäuble, pós Brexit, em uma entrevista com Die Welt, retraiu publicamente sua proposta progressista de uma