Anticomunismo de Esquerda: a Pior das Traições

Por Michael Parenti, via Blackshirts and Reds , traduzido por Red Yorkie 

“Impregnados pela ortodoxia anticomunista, a maioria dos esquerdistas estadunidenses praticava um macarthismo de esquerda contra pessoas que tivessem algo de positivo a falar sobre o comunismo real, excluindo-as da participação de conferências, conselhos consultivos, endossos políticos e publicações de esquerda. Tal como os conservadores, os anticomunistas de esquerda não toleravam nada que não fosse uma condenação generalizada da União Soviética como uma monstruosidade stalinista e uma aberração moral leninista.”

Nos Estados Unidos, por mais de um século, os interesses dominantes disseminaram incansavelmente o anticomunismo entre a população, até que ele se tornasse muito mais uma ortodoxia religiosa do que uma análise política. Durante a Guerra Fria, a estrutura ideológica anticomunista conseguia fazer com que qualquer aspecto a respeito do socialismo real se transformasse em algo negativo. Se os soviéticos se recusavam a negociar um ponto, eram intransigentes e beligerantes; se pareciam dispostos a fazer concessões, isso não passava de algum estratagema engenhoso, para fazer com que baixássemos a guarda. Ao se oporem à limitação de armamentos, demonstravam sua intenção agressiva; mas, quando apoiavam tratados de controle de armamentos, era porque eram dissimulados e manipuladores. Se as igrejas na URSS estavam vazias, isso demonstrava que a religião era reprimida; mas, se estivessem cheias, isso significava que as pessoas estavam rejeitando a ideologia ateísta do regime. Se os trabalhadores entravam em greve (como aconteceu em algumas ocasiões), isso era prova de sua alienação frente ao sistema coletivista; se não faziam isso, era porque se sentiam intimidados e careciam de liberdade. A escassez de bens de consumo demonstrava o fracasso do sistema econômico; uma melhora na oferta de bens de consumo significava apenas que os líderes estavam tentando apaziguar uma população impaciente e, desse modo, manter um controle mais firme sobre ela.

Se os comunistas nos Estados Unidos desempenhavam um papel importante na luta pelos direitos dos trabalhadores, dos pobres, dos afro-americanos e das mulheres, entre outros, isso era apenas uma maneira insidiosa de granjear apoio junto a grupos destituídos e obter poder para eles mesmos. Como alguém conseguia poder lutando pelos direitos de grupos sem poder jamais era explicado. Estamos diante de uma ortodoxia não falsificável que é “vendida” tão frequentemente pelos interesses dominantes que afetou pessoas de todo o espectro político.

Ajoelhar ante a Ortodoxia

Muitos membros da esquerda[1] estadunidense exibem tamanha contundência contra a União Soviética e perseguem a esquerda radical de tal maneira que não deixam nada a desejar em termos da antipatia e hostilidade demonstradas pela direita. Basta ouvir Noam Chomsky pregando a respeito de “intelectuais da esquerda” que tentam “ascender ao poder nas costas de movimentos populares de massa” e “em seguida, subjugar as pessoas… Basicamente, você começa como um leninista que fará parte da burocracia da esquerda radical. Mais adiante, percebe que o caminho para o poder não é esse e, muito rapidamente, passa a ser um ideólogo da direita… Agora mesmo, estamos vendo isso acontecer na [antiga] União Soviética. Os mesmos sujeitos que eram facínoras comunistas dois anos atrás, agora, são diretores de bancos e defensores entusiasmados do livre mercado, além de viverem louvando os estadunidenses.” (Z Magazine, 10/95).

A descrição de Chomsky tem uma dívida enorme para com a mesma cultura política corporativa dos EUA que ele critica com tanta frequência em relação a outros assuntos. Na cabeça dele, a revolução foi traída por uma camarilha de “bandidos comunistas” que simplesmente querem o poder pelo poder, em vez de quererem o poder para acabar com a fome. Na verdade, os comunistas não passaram “muito rapidamente” para a direita, mas lutaram – apesar de um ataque avassalador – por manter o socialismo soviético vivo por mais de setenta anos. Sem dúvida, nos últimos dias da União Soviética, alguns, como Bóris Yeltsin, migraram para as fileiras capitalistas, mas outros continuaram a resistir contra as incursões do livre mercado a um enorme custo pessoal: muitos deles acabaram sendo mortos durante a violenta repressão de Yeltsin ao Parlamento Russo em 1993.

Alguns esquerdistas e outros progressistas recorrem ao antigo estereótipo da esquerda radical que apenas busca o poder pelo poder sem se importar com metas sociais efetivas. Ora, se isso realmente fosse verdade, que benefício teria essa esquerda radical em ficar ao lado dos pobres e dos oprimidos, em um país após o outro, muitas vezes, fazendo enormes sacrifícios e correndo riscos consideráveis, em vez de colher as recompensas fáceis que são oferecidas a quem serve as elites.

Durante décadas, muitos escritores e palestrantes de centro-esquerda nos EUA se sentiram obrigados a estabelecer sua credibilidade, ajoelhando-se diante do altar anticomunista e antissoviético, aparentemente incapazes de apresentar um discurso ou escrever um artigo sem deixar de inserir algum ataque à esquerda radical. A intenção era – e continua sendo – manter distância da esquerda marxista-leninista.

Adam Hochschild: mantém distância da “esquerda stalinista” e recomenda a mesma postura a companheiros progressistas.

Adam Hochschild, um editor e escritor liberal, alertou àqueles na esquerda que eventualmente não sentissem muito entusiasmo em condenar as sociedades do comunismo real de que eles “enfraqueceriam sua credibilidade” (Guardian, 23/5/84). Em outras palavras, para sermos oponentes da Guerra Fria dignos de confiança, primeiro, tínhamos de nos unir às condenações da Guerra Fria às sociedades comunistas. Para Ronald Radosh, o movimento pela paz deveria se livrar dos comunistas, para que não fosse acusado de ser comunista (Guardian, 16/3/83). Se entendi direito o que ele disse, para nos salvarmos das caças às bruxas anticomunistas, deveríamos, então, nos tornar caçadores de bruxas. Expurgar a esquerda dos comunistas tornou-se uma prática duradoura, tendo efeitos nocivos em várias causas progressistas. Por exemplo, em 1949, cerca de 12 sindicatos foram excluídos da CIO porque tinham membros da esquerda radical em suas lideranças. O expurgo reduziu a filiação da CIO em cerca de 1,7 milhão de membros e enfraqueceu gravemente seus esforços de recrutamento e influência política. No final da década de 1940, para evitar ser “difamado” como pertencendo à esquerda radical, o Americans for Democratic Action (ADA), um grupo supostamente progressivo, tornou-se uma das organizações mais abertamente anticomunistas.

Apesar disso, a estratégia não funcionou. A direita continuou atacando a ADA e outras organizações na esquerda por serem comunistas ou permissivas com o comunismo. Tanto nessa época quanto agora, muitos na esquerda não conseguiram perceber que aqueles que lutam por mudança social em nome dos elementos menos privilegiados da sociedade serão perseguidos pelas elites conservadoras sejam eles comunistas ou não. Para os interesses dominantes, não faz a menor diferença se a riqueza e o poder deles está sendo posta em questão por “comunistas subversivos” ou por “liberais estadunidenses leais”. Todos são jogados na mesma vala comum, como sendo mais ou menos igualmente abomináveis.

Mesmo quando atacam a direita, os críticos esquerdistas não conseguem abrir mão de uma oportunidade de exibir suas credenciais anticomunistas. Por exemplo, em um texto crítico ao presidente Ronald Reagan, Mark Green disse que “quando às voltas com uma situação que desafia seu conservadorismo – tal como um marxista-leninista inflexível – em vez de mudar de opinião, [Reagan] altera os fatos”. Apesar de professarem uma dedicação à luta contra o dogmatismo “de direita e de esquerda”, aqueles que fazem essas genuflexões obrigatórias acabam por reforçar o dogma anticomunista. Ao perseguirem a esquerda radical, esses esquerdistas ajudaram a gerar o clima de hostilidade que não apenas proporcionou aos líderes estadunidenses enorme liberdade para travar guerras quentes e frias contra países comunistas, como, atualmente, dificulta a promoção de uma agenda progressista ou até mesmo liberal.

Um modelo de crítico ferrenho da esquerda radical, que fingia ser de esquerda, era George Orwell. No meio da Segunda Guerra Mundial, enquanto a União Soviética lutava por sua vida contra os invasores nazistas em Stalingrado, Orwell declarou que “o teste de honestidade intelectual era estar disposto a criticar a Rússia e Stalin. É a única atitude realmente perigosa do ponto de vista de um intelectual da literatura” (Monthly Review, 5/83). Protegido no seio de uma sociedade virulentamente anticomunista, Orwell (usando o duplipensar orwelliano) caracterizava a condenação ao comunismo como um ato de insubordinação corajoso e solitário. Hoje em dia, seus descendentes ideológicos continuam ativos, oferecendo-se como críticos intrépidos da esquerda, travando uma luta valorosa contra hostes imaginárias de marxistas-leninistas-stalinistas.

A esquerda estadunidense não tem absolutamente nenhuma avaliação racional a respeito da União Soviética, país que enfrentou uma guerra civil prolongada e uma invasão estrangeira multinacional nos primeiros anos de sua existência e que, duas décadas mais tarde, revidou a invasão e destruiu a besta nazista a um custo enorme para sua população. Nas três décadas após a revolução bolchevique, os soviéticos fizeram avanços industriais iguais aos que o capitalismo levou um século para alcançar – ao mesmo tempo em que alimentavam e educavam suas crianças, em vez de fazer com que trabalhassem catorze horas por dia, como industriais capitalistas fizeram e ainda fazem em muitas partes do mundo. E a União Soviética, junto com Bulgária, República Democrática Alemã e Cuba, forneceu auxílio essencial para movimentos de libertação nacional, inclusive o Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela, na África do Sul.

Anticomunistas de esquerda permaneceram completamente indiferentes aos ganhos dramáticos obtidos sob o comunismo por povos anteriormente empobrecidos. Alguns até desdenhavam dessas realizações. Lembro, por exemplo, como, em 1971, em Burlington, Vermont, o conhecido anarquista anticomunista Murray Bookchin se referia de maneira sarcástica à minha preocupação com as “pobres criancinhas que foram alimentadas sob o comunismo” (suas palavras).

A distribuição de rótulos

Aqueles entre nós que nos recusávamos a participar da crítica ferrenha aos soviéticos eram chamados pelos anticomunistas de esquerda de “apologistas soviéticos” e “stalinistas”, ainda que não gostássemos nem de Stalin nem de seu sistema de governo autocrático e acreditássemos que havia coisas realmente problemáticas na sociedade soviética. Nosso verdadeiro pecado era que, diferentemente de muitos na esquerda, nos recusávamos a engolir acriticamente a propaganda disseminada pela mídia dos EUA a respeito de sociedades comunistas. Em vez disso, argumentávamos que, além das deficiências e injustiças bem conhecidas, o comunismo real apresentava aspectos positivos que valiam a pena preservar, que melhoraram as vidas de centenas de milhões de pessoas de maneiras significativas e humanizantes. Essa abordagem tinha um efeito decididamente perturbador nos anticomunistas de esquerda, os quais, além de não conseguirem mencionar uma única palavra positiva a respeito de qualquer sociedade comunista (exceto, talvez, Cuba), não podiam dar o benefício da dúvida nem tolerar qualquer um que o fizesse.

Impregnados pela ortodoxia anticomunista, a maioria dos esquerdistas estadunidenses praticava um macarthismo de esquerda contra pessoas que tivessem algo de positivo a falar sobre o comunismo real, excluindo-as da participação de conferências, conselhos consultivos, endossos políticos e publicações de esquerda. Tal como os conservadores, os anticomunistas de esquerda não toleravam nada que não fosse uma condenação generalizada da União Soviética como uma monstruosidade stalinista e uma aberração moral leninista.

O fato de muitos esquerdistas estadunidenses não estarem familiarizados com os textos e as obras políticas de Lenin não os impede de sair distribuindo o rótulo de “leninista”. Noam Chomsky, fonte incansável de caricaturas anticomunistas, tece o seguinte comentário sobre o leninismo: “Os intelectuais do Ocidente e também do Terceiro Mundo foram atraídos pela contrarrevolução [sic] bolchevique porque o leninismo é, afinal de contas, uma doutrina que diz que a intelectualidade radical tem o direito de tomar o poder do estado e governar seus países na base da força, e essa é uma ideia muito atraente para intelectuais.” Aqui, Chomsky adapta uma imagem de intelectuais sedentos por poder, para que combine com a imagem caricatural de leninistas sedentos por poder, facínoras em busca não dos meios revolucionários de lutar contra a injustiça, mas do poder pelo poder. Na hora de perseguir a esquerda radical, alguns dos melhores e mais brilhantes nomes da esquerda soam não muito melhor do que o que há de pior na direita.

Em 1996, quando houve o atentado a bomba em Oklahoma City, ouvi um comentarista anunciar no rádio: “Lenin disse que a finalidade do terror é aterrorizar.” Os comentaristas da mídia dos EUA citaram repetidamente Lenin dessa maneira enganosa. Na verdade, a declaração do revolucionário russo era no sentido de rejeitar o terrorismo. Ele estava se opondo a atos terroristas isolados, que não resultam em nada, a não ser criar terror entre a população, convidar a repressão e isolar o movimento revolucionário das massas. Longe de ser o conspirador totalitário, fechado em um pequeno círculo, Lenin defendia abertamente a criação de amplas coalizões e organizações de massa, englobando pessoas que estavam em vários níveis de desenvolvimento político. Ele defendia a adoção de qualquer meio diverso que fosse necessário para promover a luta de classes, inclusive a participação em eleições parlamentares e nos sindicatos existentes. Sem dúvida, para conseguir travar uma luta revolucionária bem-sucedida, a classe trabalhadora, como qualquer grupo de massa, precisava de organização e liderança, papel a ser desempenhado por um partido de vanguarda, mas isso não significava que a revolução proletária podia ser lutada e vencida por golpistas e terroristas.

Lenin teve de lidar constantemente com o problema de evitar dois extremos: o oportunismo burguês liberal e o aventureirismo da ultraesquerda. Apesar disso, ele é constantemente identificado como um golpista ultraesquerdista pelos jornalistas da grande imprensa e por algumas pessoas na esquerda. [Chris Hedges o acusava frequentemente de ter “sequestrado a revolução”, o que quer que isso signifique.—Eds] Saber se, hoje em dia, a abordagem de Lenin referente à revolução é desejável ou até mesmo relevante é uma questão que merece um exame crítico. Porém, é pouco provável que uma avaliação útil venha de pessoas que distorcem a teoria e a prática leninistas.

Os anticomunistas de esquerda consideram qualquer associação com organizações comunistas como sendo moralmente inaceitável em razão dos “crimes do comunismo”. No entanto, apesar de muitos deles serem ligados ao Partido Democrata neste país, seja como eleitores seja como membros filiados, aparentemente, não parecem estar preocupados com os crimes políticos moralmente inaceitáveis cometidos por líderes dessa organização. Durante administrações democratas, 120.000 nipo-estadunidenses foram arrancados de suas casas e empregos e atirados em campos de detenção; bombas atômicas foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki com enorme perda de vidas inocentes; o FBI recebeu autorização para se infiltrar em grupos políticos; a Lei Smith foi usada para aprisionar líderes do Partido dos Trabalhadores Socialistas Trotskistas por suas crenças políticas; campos de detenção foram criados para aprisionar dissidentes políticos em caso de “emergência nacional”; durante o final da década de 1940 e na década de 1950, oito mil funcionários públicos federais foram expurgados do governo por conta de suas conexões e pontos de vista políticos, e outros milhares, das mais diversas origens, foram perseguidos e tiveram suas carreiras profissionais interrompidas; a Lei da Neutralidade foi usada para impor um embargo na República Espanhola, beneficiando as legiões fascistas de Franco; programas de contrainsurgência homicidas foram iniciados em vários países do Terceiro Mundo; e a Guerra do Vietnã foi iniciada e ampliada. Além disso, durante a maior parte do século, a liderança do Partido Democrata no Congresso protegeu a segregação racial e bloqueou todos os projetos de lei antilinchamento e de emprego justo. Ainda assim, todos esses crimes, que arruinaram e mataram milhares de pessoas, não sensibilizaram liberais, sociais democratas e “socialistas democráticos” anticomunistas, a fim de que insistissem reiteradamente para que emitíssemos condenações generalizadas ao Partido Democrata ou ao sistema político que o produziu, certamente sem o fervor intolerante reservado ao socialismo real. [Os democratas são totalmente responsáveis – como peças integrais da máquina imperialista – por todos os crimes do império estadunidense em pelo menos um século de expansão contínua, crimes detalhados por inúmeros estudiosos, e compilados – inter alia – em livros como Rogue State (Bill Blum).—Ends]

Socialismo Puro x Socialismo de Cerco

Segundo alguns esquerdistas estadunidenses, as revoltas no Leste Europeu não representaram uma derrota para o socialismo porque o socialismo nunca existiu nesses países. Eles dizem que o que os estados comunistas ofereciam nunca passou de “capitalismo de estado” burocrático e de partido único ou algo assim. Chamarmos ou não os antigos países comunistas de “socialistas” é uma questão de definição. Basta dizer que eles constituíam algo diferente do que existia no mundo capitalista voltado ao lucro – como os próprios capitalistas rapidamente reconheceram.

Em primeiro lugar, nos países comunistas, havia menos desigualdade econômica do que sob o capitalismo. Os benefícios desfrutados pelas elites governamentais e partidárias eram módicos pelos padrões de CEOs de empresas ocidentais [ainda mais quando comparados com os grotescos pacotes de remuneração de executivos e das elites financeiras.—Eds], assim como eram modestas suas rendas pessoais e estilos de vida. Os líderes soviéticos, como Yuri Andropov e Leonid Brejnev, não moravam em mansões ricamente ornamentadas, como a Casa Branca, mas em apartamentos relativamente grandes em um complexo habitacional próximo ao Kremlin reservados para lideranças governamentais. Eles tinham limusines à disposição (como a maioria dos chefes de estado) e acesso a grandes dachas, onde entretinham dignitários que porventura estivessem visitando o país. Porém, não desfrutavam da imensa riqueza pessoal que a maioria dos líderes estadunidenses possuem. [Tampouco seria possível para eles transferir essa “riqueza”, por meio de herança ou doação, para amigos e parentes, como é frequentemente o caso de magnatas ocidentais e lideranças políticas ricas. Basta ver, por exemplo, Tony Blair.—Eds]

A “vida luxuosa” gozada pelas lideranças partidárias da Alemanha Oriental, conforme amplamente divulgado na imprensa dos EUA, incluía um abono anual equivalente a US$ 725,00 em moeda forte, e moradia em um residencial exclusivo nos arredores de Berlim, que dispunha de sauna, piscina indoor e academia de ginástica compartilhadas por todos os moradores. Além disso, eles também podiam comprar em lojas que tinham artigos ocidentais, como bananas, jeans e produtos eletrônicos japoneses. A imprensa dos EUA jamais disse que os cidadãos comuns da Alemanha Oriental tinham acesso a academias de ginástica e piscinas públicas e podiam comprar jeans e produtos eletrônicos (embora, normalmente, não os importados). O consumo “de luxo” desfrutado pela liderança da Alemanha Oriental não chegava nem perto do estilo de vida verdadeiramente nababesco desfrutado pela plutocracia ocidental.

Em segundo lugar, nos países comunistas, as forças produtivas não estavam organizadas para promover ganhos de capital e o enriquecimento privado; a propriedade pública dos meios de produção substituiu a propriedade privada. Ninguém podia contratar outras pessoas e acumular uma enorme riqueza pessoal com base no trabalho alheio. Novamente, na comparação com os padrões ocidentais, as diferenças salariais e de níveis de poupança entre a população eram geralmente modestas. Na União Soviética, por exemplo, a diferença entre o salário mais alto e o mais baixo era de aproximadamente cinco para um. Nos EUA, a diferença de renda anual entre multibilionários e trabalhadores pobres está mais próxima de 10.000 para 1.

Em terceiro lugar, dava-se prioridade aos serviços humanos. Embora a vida sob o comunismo deixasse muito a desejar, e os serviços raramente fossem os melhores, os países comunistas realmente garantiam a seus cidadãos um padrão mínimo de segurança e sobrevivência econômicas, os quais incluíam a garantia de educação, emprego, moradia e assistência médica.

Em quarto lugar, diferentemente de outros países, as nações comunistas não visavam promover uma penetração de capital. Na ausência da motivação do lucro como força motora e, portanto, não havendo necessidade de constantemente descobrir novas oportunidades de investimento, eles não expropriavam as terras, os mercados de trabalho e os recursos naturais de países mais frágeis, isto é, não praticavam o imperialismo econômico. Os termos das relações comerciais e da ajuda oferecidos pela União Soviética eram geralmente favoráveis para os países do Leste Europeu, além da Mongólia, Cuba e Índia.

Em maior ou menor grau, todos esses itens mencionados acima faziam parte dos princípios organizacionais do sistema comunista. Nada deles se aplica a países onde impera o livre mercado, como Honduras, Guatemala, Tailândia, Coreia do Sul, Indonésia, Zaire [NT: atual República Democrática do Congo], Alemanha ou Estados Unidos.

Mas um socialismo autêntico, argumenta-se, seria controlado pelos próprios trabalhadores por meio da participação direta, em vez de ser controlado por leninistas, stalinistas, fidelistas ou outras cabalas de homens maus, mal-intencionados, sedentos de poder, que traíram as revoluções. Infelizmente, essa visão de “socialismo puro” é a-histórica e não falsificável; ela não pode ser testada contra a realidade da história. Nessa comparação entre o ideal e uma realidade imperfeita, a realidade sempre chega em segundo lugar. Ela imagina como o socialismo seria em um mundo muito melhor do que este aqui, onde não seria necessária a existência de um aparato de segurança nem de uma estrutura estatal forte, onde nenhum valor produzido pelos trabalhadores precisaria ser expropriado para reconstruir a sociedade e defendê-la contra invasões e sabotagens internas.

As expectativas ideológicas dos socialistas puros permanecem imaculadas frente a realidade existente. Eles não explicam como as várias funções de uma sociedade revolucionária seriam organizadas, como ataques externos e sabotagem interna seriam combatidos, como a burocracia seria evitada, recursos escassos alocados, diferenças políticas resolvidas, prioridades definidas e como seriam conduzidas a produção e a distribuição. Em vez disso, eles apresentam declarações vagas sobre como os trabalhadores terão a propriedade direta e controlarão os meios de produção e alcançarão suas próprias soluções por meio da luta criativa. Não surpreende, portanto, que os socialistas puros apoiem qualquer revolução, menos as que tiveram êxito.

Os socialistas puros tinham uma visão de uma nova sociedade que criaria e seria criada por novas pessoas, uma sociedade tão transformada em suas bases que deixaria pouco espaço para atos ilícitos, corrupção e abusos criminosos do poder estatal. Não haveria burocracia nem camarilhas, nenhum conflito violento nem decisões dolorosas. Quando a realidade se mostra diferente e mais difícil, alguns membros da esquerda passam a condenar a experiência real e anunciam que “se sentem traídos” por essa ou aquela revolução.

Os socialistas puros veem o socialismo como um ideal que foi conspurcado pela venalidade, duplicidade e pelo desejo de poder comunistas. Eles se opõem ao modelo soviético, mas oferecem muito pouco quando se trata de demonstrar que outras alternativas poderiam ter sido adotadas, que outros modelos de socialismo – não criados da imaginação de alguém, mas concebidos por meio de uma experiência histórica real – poderiam ter sido desenvolvidos e funcionado melhor. Um socialismo aberto, plural e democrático é realmente possível na atual conjuntura histórica? Os fatos históricos sugeririam que não. Conforme argumentou o filósofo político Carl Shames:

Como [os críticos de esquerda] sabem que o problema fundamental era a “natureza” dos partidos [revolucionários] dirigentes em vez de, digamos, a concentração global de capital que está destruindo economias independentes e colocando um fim à soberania nacional em todo o mundo? E, na medida em que o problema fosse esse [isto é, da “natureza” deles], qual seria a origem dessa “natureza”? Essa “natureza” era incorpórea, desconectada do tecido da própria sociedade, dos impactos das relações sociais sobre ela? … Milhares de exemplos poderiam ser encontrados nos quais a centralização de poder foi uma escolha necessária para assegurar e proteger relações socialistas. Na minha observação [de sociedades do socialismo real], os aspectos positivos do “socialismo” e os negativos da “burocracia, autoritarismo e tirania” interpenetraram-se em praticamente todas as esferas da vida. (Carl Shames, correspondência para mim, 15/1/92.)

Normalmente, os socialistas puros culpam a própria esquerda a cada derrota por ela sofrida. As críticas a posteriori deles são infinitas. Assim, ouvimos que as lutas revolucionárias fracassam porque seus líderes demoram a agir ou agem muito cedo, são muito tímidos ou muito impulsivos, muito teimosos ou facilmente influenciáveis. Ouvimos que as lideranças revolucionárias fazem [muitas] concessões ou são aventureiras, burocráticas ou oportunistas, rigidamente organizadas ou insuficientemente organizadas, antidemocráticas ou então carecem de liderança forte. Mas sempre as lideranças fracassam porque não confiam nas “ações diretas” dos trabalhadores, os quais, aparentemente, aguentariam e superariam qualquer adversidade, bastando apenas que contassem com o tipo de liderança disponível na própria camarilha dos críticos de esquerda. Infelizmente, esses críticos parecem ser incapazes de aplicar a própria genialidade para produzir movimentos revolucionários exitosos em seus próprios países.

Tony Febbo questionou essa síndrome dos socialistas puros de culpar a liderança:

Uma coisa que me ocorre é que, quando as pessoas são inteligentes, diferentes, dedicadas e heroicas, como Lenin, Mao, Fidel Castro, Daniel Ortega, Ho Chi Minh e Robert Mugabe – bem como as milhões de pessoas heroicas que as seguiram e lutaram com elas – tudo acaba mais ou menos no mesmo lugar: então, há algo maior ocorrendo do que simplesmente quem tomou qual decisão em qual reunião. Ou qual o tamanho das casas para onde eles foram depois da reunião…

Esses líderes não estavam em um vácuo. Eles estavam no olho do furacão. E a pressão, a força, o poder que os jogavam para todos os lados, sacudiram o planeta e o deixaram mutilado por mais de 900 anos. Portanto, culpar esta ou aquela teoria ou este ou aquele líder é um substituto simplório para o tipo de análise que marxistas [deveriam fazer]. (Guardian, 13/11/91)

Sem dúvida, não é totalmente correto dizer que os socialistas puros não têm agendas específicas para construir a revolução. Depois que os Sandinistas derrubaram a ditadura Somoza na Nicarágua, um grupo da ultraesquerda naquele país defendeu que os trabalhadores deveriam ter a propriedade direta das fábricas. Os trabalhadores armados tomariam controle da produção sem o benefício de gerentes, planejadores do estado, burocratas ou um aparato militar formal. Embora seja inegável que esse sindicalismo de trabalhadores seja atraente, ele nega as necessidades do poder estatal. Sob um arranjo desses, a revolução nicaraguense não teria durado dois meses frente a uma contrarrevolução patrocinada pelos EUA que brutalizou o país. Ela não conseguiria mobilizar recursos suficientes para cuidar de um exército, tomar medidas de segurança, ou construir e coordenar programas econômicos e serviços humanos em escala nacional.

Descentralização x Sobrevivência

Para que uma revolução popular sobreviva, ela precisa tomar o poder do estado e usá-lo para: (a) acabar com o estrangulamento exercido pela classe proprietária sobre as instituições e os recursos da sociedade; e (b) aguentar o contra-ataque reacionário que certamente virá. Os perigos internos e externos enfrentados pela revolução tornam necessária a existência de um poder estatal centralizado, algo que não é particularmente do agrado de ninguém. Não foi na Rússia Soviética em 1917 nem na Nicarágua Sandinista em 1980.

Engels oferece um relato pertinente de uma revolta na Espanha em 1872-73, na qual anarquistas tomaram o poder em algumas municipalidades ao redor do país. Inicialmente, a situação parecia promissora. O rei havia abdicado, e o governo burguês não conseguiu reunir mais do que poucos milhares de tropas mal treinadas. No entanto, essa força medíocre prevaleceu porque enfrentou uma rebelião completamente paroquial. “Cada cidade se proclamou um cantão soberano e estabeleceu um comitê (junta) revolucionário”, escreveu Engels. “[C]ada cidade agiu por conta própria, declarando que o que importava não era a cooperação com outras cidades, mas uma separação delas, impedindo, assim, qualquer possibilidade de um ataque combinado [contra as forças burguesas].” Foi “a fragmentação e o isolamento das forças revolucionárias que permitiu que as tropas governamentais esmagassem uma revolta após a outra.”

A autonomia paroquial descentralizada é o túmulo da insurgência – o que pode ser uma explicação por que nunca houve uma revolução anarcossindicalista bem-sucedida. Idealmente, seria ótimo ter apenas a participação local e autodirigida de trabalhadores, com burocracia e forças policiais e militares mínimas. Provavelmente, esse teria sido o desenvolvimento do socialismo, se lhe tivesse sido permitido se desenvolver livre de ataques e de subversão contrarrevolucionária. É bom lembrarmos como, em 1918-20, 14 países capitalistas, inclusive os EUA, invadiram a Rússia Soviética em uma tentativa sangrenta, mas infrutífera, de derrubar o governo revolucionário bolchevique.

Os anos de invasão estrangeira e de guerra civil tiveram grande importância para intensificar a psicologia de cerco dos bolcheviques, com seu compromisso com a unidade partidária estrita e um aparato de segurança repressor. Assim, em maio de 1921, o mesmo Lenin que havia encorajado a prática de democracia partidária interna e que se opôs a Trotsky, a fim de propiciar aos sindicatos maior grau de autonomia, agora, pedia o fim à Oposição dos Trabalhadores e outros agrupamentos faccionais dentro do partido. “Chegou a hora”, ele disse a um igualmente entusiasmado Décimo Congresso do Partido, “de dar um fim à oposição, de controlá-la: já tivemos oposição demais.” As disputas abertas e as tendências conflitantes dentro e fora do partido, os comunistas concluíram, criavam uma aparência de divisão e fragilidade que atraía ataques de inimigos formidáveis.

Apenas um mês antes, em abril de 1921, Lenin havia pedido por uma maior representação dos trabalhadores no Comitê Central do partido. Em suma, ele havia passado a ser antioposição – e não antitrabalhador. Aqui estava uma revolução social – como todas as outras – que não teve permissão para desenvolver sua vida política e material de maneira desimpedida.

Ao final da década de 1920, os soviéticos se viram às voltas com duas opções: (a) passar para uma direção mais centralizada, com economia de comando e coletivização agrária forçada, além de uma industrialização à máxima velocidade sob uma liderança partidária autocrática e “comandista”, o caminho adotado por Stalin; ou (b) passar para uma direção liberalizada, permitindo maior diversidade política, maior autonomia para sindicatos e outras organizações, crítica e debate mais abertos, maior autonomia entre as várias repúblicas soviéticas, um setor de pequenas empresas de propriedade privada, desenvolvimento agrícola independente para o campesinato, maior ênfase em bens de consumo, e menor esforço para o tipo de acumulação de capital necessária para desenvolver uma sólida base industrial-militar.

A segunda opção, acredito, teria produzido uma sociedade mais confortável, mais humana e mais funcional. O socialismo de cerco teria dado lugar ao socialismo do tipo trabalhador-consumidor. O único problema é que o país teria corrido o risco de ser incapaz de aguentar a investida nazista. Em vez disso, a União Soviética embarcou em uma industrialização forçada e rigorosa. Muitas vezes, essa política é mencionada como um dos crimes cometidos por Stalin sobre a população. Ela consistia principalmente na construção, dentro de uma década, de uma base industrial completamente nova e enorme a leste dos Montes Urais, no meio das estepes áridas, o maior complexo siderúrgico da Europa, em preparação à invasão do Ocidente. “O dinheiro era gasto como água, homens congelaram, passaram fome e sofreram, mas a construção seguiu, aliando um desprezo pelas pessoas a um heroísmo generalizado raramente visto na história.”

A profecia de Stalin, de que a União Soviética teve apenas dez anos para fazer o que os britânicos fizeram em um século provou-se correta. Em 1941, quando houve a invasão nazista, aquela mesma base industrial, protegida a milhares de quilômetros do fronte, produziu as armas da guerra que acabaram por virar a maré. O custo dessa sobrevivência incluiu 22 milhões de cidadãos da União Soviética que pereceram na guerra, além do sofrimento e da devastação incomensuráveis, com reverberações que prejudicariam a URSS por décadas após a guerra.

Isso não quer dizer que tudo o que Stalin fez fosse uma necessidade histórica. As exigências da sobrevivência revolucionária não “tornaram inevitável” a execução impiedosa de centenas de lideranças da velha guarda bolchevique, o culto à personalidade de um líder supremo que declarava que cada ganho revolucionário era uma realização sua, a supressão da vida política partidária por meio do terror, o subsequente silenciamento do debate referente ao ritmo da industrialização e da coletivização, a regulação ideológica de toda a vida cultural e intelectual, e as deportações em massa de nacionalidades “suspeitas”.

Os efeitos transformadores do ataque contrarrevolucionário foram sentidos em outros países. Uma oficial das forças armadas sandinistas, que conheci em Viena, em 1986, observou que os nicaraguenses “não eram um povo guerreiro”, mas tiveram de aprender a lutar porque estavam enfrentando uma guerra destrutiva, mercenária e patrocinada pelos EUA. Ela lamentou o fato de que o embargo e a guerra forçaram o país dela a postergar a maior parte de sua agenda socioeconômica. Tal como na Nicarágua, o mesmo ocorreu em Moçambique, Angola e em inúmeros outros países nos quais forças mercenárias financiadas pelos EUA destruíram plantações, vilarejos, centros de saúde e usinas elétricas, ao mesmo tempo em que assassinavam e matavam de fome centenas de milhares de pessoas – o bebê revolucionário era estrangulado no berço ou atacado impiedosamente até ficar ensanguentado e irreconhecível. Essa realidade deveria receber pelo menos tanto reconhecimento quanto a supressão de dissidentes nesta ou naquela sociedade revolucionária.

A derrubada de governos comunistas soviéticos e do Leste Europeu foi saudada por muitos intelectuais da esquerda. Agora, a democracia teria sua chance. As pessoas estariam livres do jugo comunista, e a esquerda estadunidense ficaria livre dos grilhões do comunismo real, ou, como descreveu o teórico de esquerda Richard Lichtman, “livre do íncubo da União Soviética e do súcubo da China comunista”.

De fato, a restauração capitalista no Leste Europeu enfraqueceu seriamente as numerosas lutas de libertação do Terceiro Mundo que recebiam ajuda da União Soviética e deu origem a uma nova safra de governos de direita, os quais, agora, trabalhavam em sintonia fina com os contrarrevolucionários globais estadunidenses ao redor do mundo.

Além disso, a derrubada do comunismo acendeu a luz verde para os impulsos exploradores desenfreados dos interesses corporativos ocidentais. Sem ter mais de convencer os trabalhadores de que eles vivem melhor que seus homólogos na Rússia, não mais limitados por um sistema concorrente, a classe corporativa está eliminando as várias conquistas obtidas pela classe trabalhadora ao longo dos anos. Agora que o livre mercado, em sua forma mais cruel, está emergindo triunfante no Leste Europeu, ele prevalecerá da mesma forma no Ocidente. O “capitalismo com face humana” está sendo substituído pelo “capitalismo na sua cara”. Conforme disse Richard Levins, “Assim, na nova agressividade exuberante do capitalismo mundial, vemos contra o quê os comunistas e seus aliados tinham de se precaver” (Monthly Review, 9/96).

Jamais tendo entendido o papel que as potências comunistas desempenhavam em temperar os piores impulsos do capitalismo ocidental, e tendo percebido o comunismo como nada a não ser um mal consumado, os anticomunistas de esquerda não antecipavam as perdas que iriam ocorrer. Alguns deles ainda não entenderam isso.


Michael Parenti é um cientista político, historiador e crítico cultural estadunidense, premiado e renomado internacionalmente, que escreve sobre uma ampla gama de temas acadêmicos e populares há mais de quarenta anos. Ele lecionou em várias faculdades e universidades e tem sido um conferencista frequentemente convidado para palestrar diante de plateias universitárias e comunitárias. Além disso, teve um papel ativo em disputas políticas, mais notadamente em vários movimentos antiguerra. Entre os temas abordados por ele estão política estadunidense, questões internacionais, mídia informativa e de entretenimento, ideologia, historiografia, etnicidade e religião.

[1] NT: No original, são usados os termos Left, Red e Right, todos em maiúsculas. Optei por deixar tudo em minúsculas e diferenciar Left de Red, traduzindo o primeiro como “esquerda” e o segundo como “esquerda radical”. Right permaneceu, por óbvio, direita.

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3 comentários em “Anticomunismo de Esquerda: a Pior das Traições”

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